INGRATIDÃO E AMOR
ATÉ QUANDO?
'Té quando seu torrão será perverso?
Até quando a terra mãe será ingrata
Com seu filho que lhe ama e que lhe trata
Como a joia mais bela deste universo?
Até quando zombará de teu verso
Essa sociedade aristocrata,
Rotulando contra ti essa bravata,
De pseudopoeta, controverso?
'Té quando seguirás assim na terra,
Vítima dos horrores dessa guerra,
Recebido com tamanha ironia?
'Té quando manterás acesa a chama
Declarando todo instante que inda ama
A terra que te inspira a poesia?...
POR QUE NÃO ESQUECER A TERRA INGRATA?
Por que não esquecer a terra ingrata
Que a seu filho renega, que maltrata,
Lhe fazendo sentir-se um Dom Quixote,
De utopias, levando o seu pacote?...
Por que não esquecer a terra ingrata
Que com tanto desdém hora lhe trata?...
Mas a terra, poeta, que culpa tem
Se há pessoas que não lhe querem bem?
A terra que o Senhor lhe fez nascer
Porventura é culpada do sofrer,
Dessa ingratidão que não se cancela?...
A sua terra é seu berço, seu torrão,
Que culpa pode ter da ingratidão
Dos levianos que habitam sobre ela?...
DESABAFO DE UM POETA
Não me venha colocar nome de praça,
Não me venha colocar nome de rua,
Pois somente quando morre é que tem graça?
Que reconhecem poeta em terra sua?...
A indiferença vivida ela é tão crua
Esse desprezo ignóbil que não passa;
Por que somente ao morrer se atenua,
Que enaltecem o poeta para massa?...
Por que tanta indiferença neste mundo
Contra quem o seu torrão amou profundo,
Enaltecendo a grandeza que ele encerra?...
Por que, em vida, ele não é valorizado?
Por que apenas quando morre é que é lembrado,
Que reconhecem o poeta em sua terra?...
A INGRATIDÃO DA HUMANIDADE
A ingratidão, meu Deus, essa pantera
Que habita o coração da humanidade,
Ignorando o amor e tua bondade,
Chamando-te até mesmo de quimera!
A ingratidão, meu Deus, no mundo impera;
Fazer o bem parece iniquidade!
O agradecimento é leviandade,
Sempre da parte de quem não se espera!...
É contumaz, meu Deus, homens ingratos,
Comer teu pão, depois cuspir nos pratos,
Ignorando o amor com que fizeste!...
E quando pede comida, um faminto,
Ignoram o pobre no recinto,
Negando repartir do que lhes deste!...
NA PAISAGEM QUE PINTO DO SERTÃO
Que haja bois, que haja vacas e alazão
Na paisagem rural que pinto agora;
E um vaqueiro destemido co’ espora,
Com chapéu, com colete e com gibão!
Que haja chuva revigorando o chão
E também um conforto pra quem chora
A saudade do amor que foi embora,
Outorgando, de herança, a solidão!
Que a 'sperança que anima e que consola
Siga o toque bonito da viola,
Inspirando um repente, uma canção....
E que haja compromisso dos doutores,
Políticos não sejam enganadores,
Na paisagem que pinto do sertão!
QUANDO MORRE UM POETA
In memoriam do poeta Odir Milanez da Cunha (Oklima)
Quando morre um poeta a natureza
El' chora por perder um menestrel;
A terra fica triste, escuro o céu...
O mundo fica estranho, com firmeza.
‘Té mesmo a lua se esconde, de tristeza,
Sobre a nuvem que no céu se avoluma,
As estrelas se ocultam, uma a uma,
E a noite fica um luto, sem beleza.
Enquanto há pranto, aqui, melancolia,
No céu há enorme festa, alegria
P’lo poeta que foi louvar a Deus...
Inda bem que pra matar a saudade
Deixou-nos seus poemas. Na verdade,
Seus versos jamais nos dirão adeus!...
COMO POSSO ESQUECER A MINHA TERRA?
Como posso esquecer a minha terra
Que provoca dentro em mim tanto apego?
Meu torrão, meu lugar, meu aconchego...
Meu Pilar que tanta beleza encerra!
Como posso esquecer a minha terra
Que me dá tanto prazer quando chego,
Vendo o mundo rural de Lins do Rego
Que a rústica paisagem desenterra.
Como posso esquecer-me deste chão
Que revigora em meu peito o coração,
Que me faz decantá-la como meta...
Se for para esquecer, um só momento,
O torrão em que nasci — eu lamento —
Mas prefiro esquecer que sou poeta!