TRILHA DE SONETOS LXI - VERSOS DECASSÍLABOS EM RITMO ALTERNADO HEROICO/SÁFICO, COM 4 PARES DE RIMAS E TRIO DE PALAVRAS: MAR(RES), OCEANO(S) e AURORA.
*OCEÂNICO*
As ondas esquecidas do oceano
Revelam meu inconsciente inteiro,
Rumando, no sentido verdadeiro,
A minha vida no azulado pano.
O azul celestial e soberano,
Sobre o marítimo lençol, certeiro,
Espalha-se no véu alvissareiro,
Servindo, a todos, de refúgio humano.
Contemplo o céu e o mar, as suas cores,
E vou além das dimensões de dores,
Seguindo, mansamente, o meu destino.
As noites causam-me aflições e horrores,
Mas venço o frio e os ventos gemedores,
E alcanço a aurora de fanal divino.
Ricardo Camacho
*LOUVOR*
Brilha o luar por sobre as águas quedas
do imenso mar, em explosões de prata,
declina como fúlgida cascata,
cobre o oceano de luzentes sedas.
E desde a aurora, desde a prima data,
assim sucede nas rotinas ledas:
o mar e a lua rentes nas veredas
beijam a praia com bravura inata.
O céu cintila em prismas de ardentia,
o mar refulge com celestes cores,
liame de sublime poesia...
Arde-me a verve num elã sem dores,
sobe-me à boca o dom que o verso amplia,
louvo, de Deus, os divinais favores!
Geisa Alves
*PACIFICANDO O VENTO*
O vento encrespa as ondas no oceano
E vai zoando um magistral veleiro...
E enquanto assanha as palhas do coqueiro,
Vai maquinando, com astúcia, um plano:
O mar gerir, com garbo soberano,
E pelos ares espalhar, faceiro,
As folhas ressecadas do terreiro
E, no varal, enxovalhar o pano...
Porém, na nova aurora, os seus rumores
E peraltices, no florir das cores,
Cedem lugar ao plácido "bambino",
Que, alegremente, entoará louvores,
Em gratidão, dará algumas flores
Ao grande Rei, o protetor divino!
Aila Brito
*AURORA…*
O dia fez-se noite, de repente…
Quedou-se um véu enegrecido e atroz.
Contemplo o mar revolto — meu algoz —
que causa dor dilacerante e ardente.
Se pasmo, frente ao caos, serei silente,
pois cabe a mim reinventar a voz
capaz de por um freio em tão veloz
e astuto mal a macular-me a mente.
Mergulho no oceano da esperança
que aviva a paz recuperada agora.
(No espelho d’água, vejo-me criança).
A lua, altiva, o prateado aflora…
e, embora seja noite, o olhar descansa
a pincelar, no coração, a aurora.
Elvira Drummond
*AMOR CONTIDO*
Contenho a contragosto e entristecido,
dentro de um peito, que virou clausura,
silenciado o amor a teu pedido
e, amo-te, assim, sem demonstrar tristura.
Se acaso mude o rumo decidido
não tardes muito, evitarei censura,
nem julgarei por teres escolhido
deixar-me aqui, em deprimente agrura.
Se acaso não voltares tenha em mente
que estou distante, mas jamais ausente...
Mesmo que eu chore um mar, serei atento
e feito a aurora me farei presente...
E se altas ondas vires pela frente
eu mudo as águas do oceano e o vento!
Edy Soares
*MÃOS DIVINAS*
Por que será que muitos não entendem
Que os resplendores de alegria estão
Nos gestos de carinho que transcendem
Os elogios e o discurso vão?
Por que será que poucos compreendem
Que não existe em corações padrão
E mesmo assim alguns se surpreendem
Com a conduta que exalou paixão?
No mar de Deus, segundo por segundo,
As nossas dores, com poder, postergam,
Infelizmente muitos não enxergam.
Nesse oceano, com amor profundo,
A cada aurora as bênçãos nos albergam,
Pois mãos divinas para nós se envergam!
Luciano Dídimo
*SEGUNDA VIA*
(A lua pede uma nova chance)
A lua se cansou de desfilar
pela cerúlea passarela infinda,
ao descobrir que a voz da aurora blinda
a inesgotável aflição do mar.
Nos rastros invisíveis do luar,
eu vi que as tintas da alvorada ainda
vão colorir as trevas da berlinda,
ao transformar o firmamento em lar.
Singrando pelas águas do oceano,
escuto o vento a solfejar, ufano,
que servirá de lenço à nostalgia,
depois que o céu a vestimenta muda
e a lua, sonolenta, roga ajuda
no itinerário da segunda via.
Adilson Costa
*DESGARRADO*
A noite traz consigo a negritude,
Quando, sem lua, a solidão assoma...
O medo nossa mente frágil doma
Até que a aurora o firmamento mude.
A luz solar inunda em plenitude
A Terra e o mar... E a claridade toma
O seu lugar, no curso da redoma,
Atenuando o pensamento rude.
O dia certamente nos anima
A rabiscar itinerante rima
No intuito de encontrar, no verso, o fado:
De haver nascido praticando esgrima.
Na incompletude, enfrento o instável clima,
Porém me encontro no oceano ilhado.
José Rodrigues Filho
*EM BUSCA DA AURORA*
Andejo numa estrada ensolarada,
busco riquezas no horizonte certo...
Exalto a paz augusta na jornada
e exponho o riso eternamente aberto!
Ouvir a passarada só me agrada,
noto a ledice a chamejar por perto.
E, assim, consigo amar e ser amada,
jamais pressinto o coração deserto.
O céu vestiu o azul da cor do mar,
o cosmo está resplandecente e, agora,
a natureza afaga o meu olhar...
Há muito amor na duradoura aurora,
sinto o oceano inteiro delirar,
a expor as doces emoções de outrora!
Janete Sales Dany
*NAUTA RENASCIDO*
O mar ficou bravio, mas prossigo
alimentado de esperança e sonho,
embora a tempestade que transponho
traga ao cenário aterrador perigo.
Um novo desafio me proponho
ao desistir do ancoradouro antigo
e, nauta renascido, o peito instigo
na direção do resplendor risonho.
Aos poucos, no oceano, cristalina,
a claridade pretendida aflora
e inunda a palescência da retina.
Se a travessia me perturba agora,
o sol espera à frente, a vida ensina
que pode haver revigorante aurora.
Jerson Brito