ATOS DE AMOR PERDIDOS
ATOS DE AMOR PERDIDOS I – 28 MAI 2022
Blocos de Fevereiro lançados qual de obuses,
aterrissam de inopino em mês de Junho,
a lhe emprestarem o mais diverso cunho,
das manhãs manhas de verão trazendo luzes.
Talvez te espantes se por tais explosões cruzes,
que do verão calor gentil te comuniquem,
que dias passados da folhinha hoje se apliquem,
ferem tua mente e à surpresa então te induzes.
Tudo depende de um assalto da memória:
foi no verão que a vestimenta escassa
te induziu a desejar o diferente,
dando de ombros, sem buscar alvo de glória,
mas só existiu uma ocasião e quando passa
já se ofendeu e te abandona descontente.
ATOS DE AMOR PERDIDOS II
Mas a lembrança desse dia é qual morteiro
que o artilheiro esqueceu de disparar
e permanece dentro em ti, sem se apagar,
até o momento de qualquer fator brejeiro,
que se apresente num momento seresteiro,
poderá ser um perfume a se tragar,
um um gesto qualquer, risca de olhar,
um breve jato de um calor traiçoeiro,
talvez um som ou a vista de uma cor,
ou algum sabor despertando o paladar,
que então obuses fazem disparar,
momento velho a retornar com tal vigor,
que é como se voltasse a ser sentido,
junto com a mágoa do que não foi vivido.
ATOS DE AMOR PERDIDOS III
Atos do amor que poderia ter sido,
na aceitação da menor iniciativa,
trazendo à luz essa lembrança viva,
por mais que o evento tenha falecido.
Cada dia do ilusório mais comprido
que tantos dias de ocasião ativa,
quando dormiste nos braços dessa diva
ou sobre o peito desse homem tão querido.
Porque os dias de maior felicidade
se tendem a reunir como em romance,
entre capas ilustradas de bom couro,
mas se a perdeste, tal oportunidade
vem de tocaia em memória que te alcance,
nessa saudade imaginária de um tesouro.