SONETO TRANS/VERSAL
a Fernando Pessoa
Se alguém diz que ainda escreve só com spleen,
Vem-lhe logo uma voz crítica estancar a
dor a imagens;
Pois quem sente que um soneto já não diz,
Tece os versos a distancia, fantasia
as palavras.
Põe aos pés de cada quadro de um Camões,
Do Byron que inspirou a Lira dos
Vinte Anos;
Pelo menos mais três sílabas-senões
– Quinta-essência desta lira trans/versal e
mediana.
E isso, mesmo que nos dois terços finais,
A dor volte a conduzir a terapia
Da estética – a atenção que leva à paz;
Já que a dor que ilumina a travessia
Termina por dar à luz luzes a mais
– A fingir ser a do mestre que fingia.