COPAS ENVERGONHADAS

COPAS ENVERGONHADAS

Cheias de não-me-toques, as coroas

Dos altos eucaliptos pelo vento

Ondulam a ciciar n'esse momento

Em que caminho longe das pessoas.

Sob o rumor das ramas passo lento,

Rememorando coisas más e boas...

Mas me pego encantado a tecer loas

Ainda às pudicícias vãs do evento:

Sim, as árvores têm suas vergonhas,

Assim como ora tenho meus remorsos,

Em meio a horas tão sós quanto tristonhas.

Pois apesar de todos os esforços,

Somos só solitários a afastar

O bem e o mal de quem quer nos tocar.

Sobrália - 21 12 2020