TELA OU PAPEL?
(Interação ao soneto ALGEMA DE PAPEL, de
Herculano Alencar)
À guisa de papel, tenho a tela,
Que aceita o que me vem na telha,
Com a passividade da ovelha.
Se houver abusos, não é com ela.
Fácil de apagar sem deixar sequela,
Que com uma mágica se assemelha.
Às vezes pisca, qual uma centelha,
Como quem avisa duma esparrela.
Por isso que dei adeus ao papel,
O mouse é caneta e é pincel,
Sempre de prontidão quando eu preciso.
É assim que eu faço, e recomendo,
A dica, estou dando e não vendendo,
Então aceite quem tiver juízo.
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Algema de Papel
A vida, folha em branco que espera
A tinta escorrer sobre o papel,
Pra escrever tolices a granel
Ou um mar de proeza: quem me dera!
Tem o olhar agudo da pantera,
a fome de um cachorro vira-lata,
A frieza assassina de quem mata
E, dos bens de quem morre, se apodera.
A vida não dá tempo nem espaço
Para fazer um terço do que faço,
Quando o papel me impõe o seu desejo.
Ainda assim não largo a minha pena,
Enquanto não escrevo uma centena
De tudo o que eu penso, sinto ou vejo.
Herculano Alencar