TRILHA DE SONETOS LVI- VERSOS DECASSÍLABOS EM RITMO IBÉRICO-ARTE MAIOR, COM TRIO DE PALAVRAS: ESSÊNCIA(S), ALÉM e ANTIGO(OS/A/AS).

*ARTE MAIOR*

Liberto o prazer na doce alegria,

Compondo a canção saudável, suprema,

Que eleva a expressão maior que irradia

Em nosso viver, com métrica extrema.

E eu sinto vencer o enorme dilema,

Soltando a emoção no verso que guia

Matando a tensão no próprio fonema,

E assim conceder a Luz: Poesia.

Mentor e tenor, produzo a cadência

E a música, sim, no firme compasso

Levando ao leitor a lírica essência...

E brota da mão a antiga existência

Dos tempos vitais, felizes, e faço,

Enfim, o retrô além da aparência.

Ricardo Camacho

*ORAÇÃO*

Conduze-me, Pai, à essência divina,

à luz, ao perdão, à paz e à esperança

e sara-me a dor da rígida sina,

antigo pavor que em trevas avança.

Concede-me a fé que o mal acetina,

e a graça dos dons que o espírito amansa.

Que eu possa encontrar, na Tua doutrina,

o doce do mel, sabor de bonança.

Escuta, Senhor, a minha oração,

apaga o temor do fôlego vão,

da vida sem fim, propósito e bem.

E faze-me ver além do mundano,

por Cristo Jesus, Deífico e Humano,

o Filho do Amor, Santíssimo! Amém!

Geisa Alves

*SONHO DE CABOCLO*

Jamais almejei além de uns trocados,

o meu cobertor em noites de frio,

Pescar lambaris à margem do rio

e ver o paiol e os silos lotados...

Aos pés da montanha, um pouco tardio,

plantei o vinhedo, e os vales e prados

formaram videira, e os campos plantados

tornaram reais o sonho bravio.

Que o céu abençoe o meu bangalô

a amor de Rosinha, o vinho bordô,

e o plano divino unindo-se aos meus.

E certo que um dia iremos morrer,

procuro buscar, enquanto viver,

em cada momento a essência de Deus…

Edy Soares

*TRANSE DE AMOR*

Surgiu no jardim daquele quintal

Exótica flor de bela nuance

Imersa na luz de fonte termal

Sorvendo do amor, a máxima chance!

A sua expressão, um tanto formal,

Desfez-se no olhar, sutil, (de relance)

Ao seu cuidador, que atento afinal,

Urdiu com fervor o belo romance!

A essência floral de olor envolvente,

Suscita o vigor do antigo desejo

Do seu protetor, que aflora vivente...

E "aduba" feliz, na graça e frescor,

Regado no ardor que abrolha do ensejo,

Além do prazer, o "transe de amor"!

Aila Brito

*LACUNAS DA ALMA*

Pressinto que a paz imensa que havia

perdeu-se no além, pois nunca me acena,

e nessa aflição destruo a poesia,

os versos que fiz na tarde serena.

Almejo encontrar a altiva alegria,

que foge de mim e só me envenena.

Ostento no olhar a lágrima fria,

aos poucos desprezo a vida terrena!

Restou a tristeza, intensa e infinita,

que nubla a emoção do escrito que exponho,

e, assim, aniquila a essência do sonho.

Restou a saudade infinda que grita,

em todo retrato antigo, mirrado,

frisando o vazio, expondo o passado...

Janete Sales Dany

*TRILHA SINUOSA*

Revendo o caderno antigo, quiçá,

encontre de volta a face menina.

Um ímpeto audaz, que avança e se inclina,

acorda o passado, o lado de lá…

A essência tenaz… por onde andará?

por entre o rabisco, além da retina?

E a fala da mestra ecoa, em surdina,

lembrando o perfil do meu beabá.

Primeiras lições… confesso e agradeço

alguns arranhões — marcando o tropeço

e expondo o caminho — os âmagos meus…

As trilhas que fiz, com curva e com reta,

fizeram de mim pessoa incompleta,

pois vejo inteireza apenas em Deus!

Elvira Drummond

*TELÚRICO*

Além do horizonte está esquecida

A essência da rima, e raro atributo,

Antigo condão que herdei no usufruto,

Dos versos, cantando o gozo da vida.

Compor o sagrado, em musa batida,

Tem mais visual, confirmo e reputo,

Nem meu coração estando de luto

Faria a permuta, assim, exigida.

Prefiro exaltar, da mata, os olores;

O curso do rio, insetos e flores;

A verde campina e as águas do mar...

A ter que louvar pedindo clemência.

Não hei de chorar a minha existência

No meu natural sistema solar.

José Rodrigues Filho

*ELEGIA N°6*

Deveras senti nos ossos o frio.

De turva a visão, exausta, escurece;

Enquanto as marés amansam a prece

Que ecoa do cerne arfado e sombrio.

Que o mar, o titã, consuma o vazio,

Que em mim desemboca e o grito emudece!

E, quando no além, descrença me desse

Restando-me o medo... essência que crio;

Que possa largar na areia um umbroso

Murmúrio de dor... um choro abundoso,

Vertendo do peito aos gritos, um urro.

Antigo tormento, aflora e consome,

Mas, quando do sol escuto o sussurro,

A angústia da morte, em frêmitos, some.

Eufrasio Filho

*O AMOR DE CADA DIA*

A cada manhã, recebo a acolhida

Do Sol abraçando o nosso viver,

Essência de Deus que faz florescer

No peito, em louvor, a fé desmedida.

É certo que o sol, em sua partida,

Nos lembra, em vermelho, o antigo sofrer.

A noite, também, nos faz perceber

Que o escuro retira as cores da vida.

Mas mesmo na noite, a Luz vem na lua,

No brilho de cada estrela no céu,

No raio que risca além do negrume.

O Sol redesponta e a treva recua,

Presente de Deus, o nosso troféu,

O dia reluz com novo perfume!

Luciano Dídimo