ALGARISMOS

A solidão domina a travessia,

o tempo ainda traz cortante amplexo

à carne machucada e dou, perplexo,

razão aos alaridos da agonia.

No espelho, um crudelíssimo reflexo

os números guardados denuncia

e mostra que, depois da letargia,

restaram as correntes do complexo.

Deixando algumas pontes carcomidas,

notei desalentadas muitas vidas,

sedentas do fervor que abrasa um peito.

Em triste solilóquio, eu me interpelo:

“Há tantos calendários e o flagelo

É não poder marcá-los de outro jeito!”