TRILHA DE SONETOS LV- VERSOS DECASSÍLABOS EM RITMO BINÁRIO, COM TRIO DE PALAVRAS: ARTE(S), POESIA(S), INSPIRAÇÃO(ÕES)

*O FENÔMENO*

A poesia enxergo e, logo, escrevo,

Na refração da inspiração divina,

Colhendo as quatro pétalas do trevo

No pensamento... e a sorte se imagina.

A mesma sorte no papel transcrevo,

Fiel depositário que ilumina

Ao conservar o dom e todo o enlevo

Nas letras pelas quais se vence a sina...

E como quem degusta a doce amêndoa,

Eu provo a sensação de olhar, e vendo-a,

Contemplo a Grande Luz subir aos céus...

Eis a Arte acontecendo, em brilho e loa

Ao ser poeta que conduz e voa,

Levando encantamento aos "reis" e aos "réus"!

Ricardo Camacho

*ABANDONO*

Tristonho verso, roto, desvalido,

sem arte, sem encanto e sem doçura,

da poesia fazes armadura,

da minha dor remontas o sentido.

Então, querido, canta meu gemido

e não te escondas dentre a desventura,

pois tantos, com a verve seca e dura,

perceberão que em ânsias foste urdido.

Quem dera a inspiração divina e doce

presente em minha essência sempre fosse,

qual brisa a revoar em céu de outono.

Descansa e folga, meu amado verso.

Que culpa tens se estou na angústia imerso

ou se no peito trago um abandono?

Geisa Alves

*O MUNDO ENCANTADOR DA POESIA*

Em busca de um padrão inalcançável,

às vezes nos perdemos pelas trilhas

e regressamos para as nossas ilhas

à sombra de um castelo inabitável.

Planando na quimera imensurável

de na arte versejar as maravilhas,

tombamos pelas mesmas armadilhas

daquele que acredita ser notável.

Quem dera que o Alto Clero de um Parnaso

soubesse que num rio às vezes raso

naufraga a nossa vã filosofia!

Nem sempre as magistrais inspirações

precisam se apoiar nas exceções

do mundo encantador da poesia!

Adilson Costa

*DUROS VERSOS*

Frustrado, com a mente entorpecida,

Sem verve para impor à poesia

O encanto que meu verso carecia

Para torná-la a essência desta vida.

Acabrunhado, feito fratricida,

Busquei no Olimpo um rasgo de ousadia

Que conferisse estilo ao que escrevia

E a arte, das rimas, fosse devolvida.

Os Deuses, furiosos, não gostaram

Do insólito pedido e decretaram:

As perdas do lirismo e da visão.

Em pânico, acordei ensimesmado,

O pesadelo havia terminado,

Mas permaneço sem inspiração.

José Rodrigues Filho

*SEM INSPIRAÇÃO*

A inspiração por vezes não se importa,

Dá meia volta, esquiva-se à francesa,

Não olha para trás, fechando a porta,

E apaga o brilho, a flama, então acesa.

Não liga se ao poeta, faz-se morta,

E o aroma da arte, fecha-se em represa;

Porém, repensa, e mesmo em linha torta,

Aponta um verso, e o vate põe à mesa.;

Assim, recebe "o sopro" em sua mente,

E o esboço de um poema, de repente

Faz reluzir, nas linhas do papel.

E o bardo agradecido, então recria;

Vê renascer o filho, a poesia,

Do ventre que mistura, letra e mel.

Aila Brito

*A DESILUSÃO DO VERSO*

O Verso, que se achega sem receio,

volteia, empertigado, na esperança

de arrebatar, com pompa e galanteio,

a dama Poesia, que descansa…

Na pressa, diz com ímpeto a que veio:

pretende ter, no giro de uma dança,

a Poesia envolta em devaneio.

E o Verso, decidido, enfrenta e avança…

Ao visitar o espaço-inspiração,

almeja à Poesia dar a mão,

sonhando ser casal que o amor entrosa…

Mas eis que, por mistério ambíguo d’arte,

tal sonho a Poesia logo parte:

prefere a contradança com a Prosa.

Elvira Drummond

*NUANCES DE UM POEMA*

Não vejo em tudo encanto e poesia.

Quisera... Quase sempre o coração,

amante do poema e da canção,

encanta e escreve um verso que extasia.

Não vejo em tudo o encanto que eu queria.

Pudera!... Quase nunca o mesmo chão

abriga e distribui na mesa o pão

e aquece os desiguais na noite fria...

Sem percebermos a arte instiga a gente

a expor de forma alegre ou deprimente

nos versos das canções ou de um soneto

nuances deste mundo complicado

que a inspiração descreve com cuidado

desde as mansões da corte ao simples gueto.

Edy Soares

*RESILIÊNCIA*

Planejo rejeitar o que me esfria...

Esqueço, não enxergo o alvoroçado.

Encontro a solução na poesia,

e, em cada verso, firmo o meu recado.

Sorrio, se perdi a estrela-guia...

Desenho novos brilhos no elevado,

e, assim, a inspiração jamais desvia

do meu olhar que vive enamorado!

Ao versejar, adoro imaginar

o cântico das lágrimas do mar,

que lavam toda a dor do amanhecer!

Esmero sempre na arte de viver

e, em cada rima, expresso o meu sorriso,

pois fiz da vida o eterno paraíso!

Janete Sales Dany

*TRAJE DE GALA*

Nas artes literárias o indumento

empresta à verve exposta formosura,

sublima o canto sempre que enclausura

com harmonia verso e sentimento.

O apuro da aparência não censura

a inspiração sujeita ao mandamento

que à simetria oferta acolhimento

sem macular a essência plena e pura.

A poesia, quando encontra a norma,

expande seu clamor, aviva a forma,

alumbra corações e, assim, conquista.

Se em tantas belas obras me detenho,

celebro as tuas mãos, o teu engenho,

meu estimado amigo sonetista!

Jerson Brito