Os dedos insistem em quebrar o silêncio

Aceito esse martírio como minha sentença

Por todos os afetos que eu em vão cativei

e toda lavoura que eu plantei e não cultivei

por minha defesa disfarçada de indiferença

Tal qual um enfermo que aceita sua doença

Por todo o amor dado que eu me esquivei

Por toda a dor que sem querer eu motivei

A ironia é o juiz e eu subscrevo esta avença

Nem sempre as ações refletem meu pensar

Escrevo então tentando em vão compensar

Minha falta de tato e meu agir meio torto

Tudo o que eu sinto não consigo expressar

Muito da verdade assusta e me faz repensar

Talvez calar seja o meu cais e o meu porto