Chuva lenta

 

Todo o céu é um coração

aberto em agro tormento.

Não chove: é um sangrar longo

e lento.

(Chuva lenta, Gabriela Mistral, Chile, 1889-1957)

 

 

A chuva lenta cai na noite escura

e forma um véu de renda transparente,

porém ninguém percebe, ou mesmo sente

a dor que, em si, transporta e que murmura.

 

Do céu – um coração em farta agrura –

É o pranto que se verte no ambiente, 

Edaz sangria antiga e tão pungente,

de algum sofrer que não se acaba ou cura.

 

A chuva lenta cai ... E cai bem calma

E sobre a terra seca vai, se espalma,

Mas não acalma a fonte da tormenta.

 

Chacal que espreita ao longe a mata, a serra,

O firmamento obscuro, em si, encerra

Um cíclico penar que o desalenta.

 

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 05/03/2022
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