Ícaro
“Um pouco mais de Sol – eu era brasa.
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa;
Se ao menos eu permanecesse aquém…”
(MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO)
Bradou-me o Gênio incisivamente: “Avante!
É teu destino, vate, o Apeiron vislumbrar.”
Um par de asas deu-me para, livre, voar,
E planei a novas alturas, triunfante.
Ambicionei o Sol, dourado e coruscante,
E num fugaz momento o pude tocar –
Mas minhas asas, porém, sem mais suportar,
Pereceram nas chamas no mesmo instante.
Caí… Caí… E em mim mesmo me afoguei,
Buscando em minha escuridão, ensandecido,
O breve lampejo de glória que alcancei.
E sempre aqui, nas trevas deste mar perdido,
Amaldiçoo àquele brilho a que almejei –
Melhor seria nunca tê-lo obtido…!