TRILHA DE SONETOS LVI - VERSOS ENEASSÍLABOS EM TRIO DE ANAPESTOS, COM TRIO DE PALAVRAS: OUVIDO(S), CENÁRIO(S) e CRIANÇA(S)
*SINESTESIA…*
Com o ouvido costumo enxergar…
Se no olhar, tateando o cenário,
localizo um lugar solitário,
sensações tagarelam ao ar!
E um aroma parece embalar
os cantares de meu fabulário,
ressuscita-me o tempo primário,
em que fui a princesa do lar.
Com o doce da anil melodia,
recupero a criança que ria,
satisfeita, sem tom de tristeza…
Se o passado salteia, na frente,
a mesclar os prazeres, quem sente
agradece por tanta inteireza!
Elvira Drummond
*ORQUESTRA MÁGICA*
O poeta comanda os enredos
Elevando os sensíveis sentidos
Dos leitores aos astros erguidos
E à ramagem de mil arvoredos!
O cenário reside nos dedos
Com imagens e sons reunidos,
Os olhares e os vivos ouvidos
Redescobrem os belos segredos.
Ao chorar, a plateia acordada
Compreende que tudo e que o nada
Consolidam as várias nuanças,
Na alquimia da pena e da espada,
Libertando a alegria zelada
E a magia de muitas crianças!
Ricardo Camacho
*ESPERANÇA*
A esperança renasce ardorosa
na manhã que reluz e rebrilha,
nos gerânios na beira da trilha,
no perfume que exala da rosa
e na voz da criança amistosa,
no prazer da mercê, da partilha,
no renovo da paz andarilha
que flanava, à deriva, na glosa.
Se os ouvidos refutam acintes,
cederá, em gentis primaveras,
o cenário de estios seguintes.
E no tempo cortês, benfazejo,
do otimismo das almas sinceras,
advirá o louvor de um ensejo!
Geisa Alves
*O BATOM*
Na memória o cenário perfeito
Da emoção do vermelho encantado
Adornando o recinto, no estado
De frescor, resguardado no peito.
Na lembrança desperta o trejeito
Da criança ao espelho o cuidado
Do sorriso tingido, imantado
Na alquimia do olhar, o bem-feito.
Do gostinho maroto hortelã,
Ratifica na doce manhã,
O prazer momentâneo sorvido!
Configura o sagrado frisson,
Do perfume e o dulçor do batom,
Nas imgens, o apuro do ouvido!
Aila Brito
*REGRESSÃO*
Relicário de eternas lembranças,
Fantasias da fase infantil;
Recordei do vigor varonil
Que exalava daquelas crianças:
Brincadeiras, folguedos e danças.
A memória me trouxe o perfil
Do Nordeste, padrão do Brasil,
No cenário de tantas mudanças.
Da matraca, retenho no ouvido,
As batidas do ritmo garrido
No compasso do "Bumba Bumbá".
A saudade espalhou alegria...
O passado venceu a fobia
Respaldado no bem que virá.
José Rodrigues Filho
O SANTO ENFERMEIRO
O enfermeiro, em pequenas ações,
Modifica no mundo o cenário,
Um olhar que percebe o precário,
Um ouvido que escuta tensões.
Um sorriso se faz emissário,
Preenchendo de luz corações.
O enfermeiro que eleva orações,
No silêncio, se torna sacrário.
Nas feridas que tocam as mãos
Do doente ancião ou criança,
Aliviam as dores e os prantos.
Em cuidados com nossos irmãos,
Revigoram o amor e a esperança.
Enfermagem, celeiro de santos!
Luciano Dídimo
*RELEMBRANÇAS...*
O passado ressurge na mente
e contemplo um cenário perfeito:
A criança corria contente,
na campina, com versos no peito.
Adorava viver docemente,
alumbrava o horizonte desfeito
no universo e na hipótese à frente,
pois, assim, avançava com jeito...
A vontade que tenho circunda
e produz a saudade profunda
de um viver, sem nenhuma ambição,
de jamais abeirar os ouvidos,
na contenda que afunda os sentidos
e destoa qualquer coração...
Janete Sales Dany
AO SOM DA ÁRIA
Despontou aos ouvidos o são
Monumento, que puro me inunda
Da divina beleza oriunda
Da matéria de etérea canção.
Flutuando a magia e o condão
– Melodia sublime e profunda –
A elevar a emoção, que fecunda
A harmonia, que enleva em fruição.
A procela, portanto se acalma,
Ao sentir os tecidos sonoros
Que de assalto romperam minh'alma;
Desprendendo, de mim, a criança
E aguçando, nos corpos os poros
– O cenário que avulta a esperança.
Eufrasio Filho
O REGENTE
No prelúdio da minha jornada,
o concerto começa e, perfeita,
a harmonia das notas deleita
os ouvidos, na festa esperada.
Colorido, o cenário se enfeita
de talentos e a orquestra afinada
apresenta mensagem que agrada
emoções... Plenitude insuspeita!
Personagens da esplêndida aurora,
passarinhos me fazem agora
a criança que exulta, ridente.
Memoráveis artistas escuto
e, encantado, componho tributo
à bondade do Grande Regente.
Jerson Brito
*OPERÁRIO*
Atendendo os ditames da lida,
Na sequência de rounds diários,
A ganhar desprezíveis salários
Negocia em pacotes a vida.
Ao cumprir a função exercida,
Analisa os possíveis cenários
Mas percebe os indícios precários,
Sem que exista nenhuma saída.
Dos seus sonhos de quando criança
Nem sequer se mantém a esperança...
E prossegue a patética sina.
Um apito lhe chega ao ouvido
Convocando-o de volta ao sofrido
Exercício da inglória rotina.
Gilliard Santos