SONATA
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
[Pablo Neruda]
Astuto sempre chega de mansinho,
Quieto, sorrateiro e com vagar...
Seduz-me lentamente, com carinho,
No colo põe, subjuga e faz sonhar.
Me joga docemente no teu ninho,
E logo no teu peito vou a voejar,
Vagando em mil espaços, mil caminhos,
Contigo sigo solta entre céu e mar.
Em transe junto a ti, eu me reviro,
Me entrego sem pudor em abandono,
Suspensa na vazão deste retiro,
Qual folha num cenário ébrio de outono!
Deitando em pleno voo cada suspiro,
Em teus braços me encanto, débil Sono!