Palácio de Minhas Dores

Adentrei neste recinto há muito tempo e a contragosto

Não tive escolha, não mais que qualquer um havia tido

Desde então, neste mundo que parece-me subvertido

Há o mel, mas há o fel, e deste eu não esqueço o gosto

Sem superstição, conto e reconto longos dias de Agosto

Embora vislumbre a liberdade, ainda sim estou retido

E já cedi em procurar por um mísero grão de sentido

Pequenos banhos de sol para longas noites de desgosto

Não reclamo tanto nem tampouco procuro culpado

Nem me encontro em companhia dos murmuradores

O que me rasga e sangra é o meu arame farpado

Tenho a chave e teimo em não usá-la sem pudores

Afinal, sou soberano das ruínas deste principado

Anfitrião e mordomo no Palácio de Minhas Dores