Ao Inquilino da Casa do Poema
(Para Herculano de Alencar, pelo seu
poema A CASA VAZIA)
Papai do céu um dia te castiga,
Ao te ver chorar de barriga cheia,
Ao te ver zombar da pobreza alheia,
Levanta o polegar, faz uma figa.
Pois isso não é coisa que se diga,
Quando tens inspiração a mancheia,
Na mente, no sangue, corre na veia,
Namora contigo, mais que amiga.
Mas se queres fazer a coisa certa,
Deixa que fique esta janela aberta
E reparte conosco o que te sobra.
Será como chuva em nosso jardim.
Vai fazer brotar rosas e jasmim,
E trazer mais frescor pra nossa obra.
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A Casa Vazia
A casa do poema está vazia!
O mato escondeu-lhe a fachada!
Uma janela triste, desbotada ...
se abre para a luz da luz do dia.
Por ela foi-se embora a poesia,
deixando letras mortas pelo chão,
sonetos que perderam emoção,
canções em dissonante melodia...
Um velho gato cego que vigia
a flor que resistiu inda botão,
insinua chorar, enquanto mia
pra espantar, de si, a solidão.
Na casa do poema, eu não sabia,
somente a poesia foi-se em vão.
Herculano Alencar