Meu sofrer amortalhado (Soneto hendecassílabo)
Plangi-me pungente à mortalha funérea,
Lamento no ser purulento do horror...
Que em lodo voraz e carniça, eis a dor!
Atiça-me omisso que sofro a matéria!...
Que as larvas me cevam na mórbida artéria...
Borrifo-as até lacrimar com palor,
- Pudestes comer-me veemente ao fedor
Enquanto me ansiastes em tez deletéria.
Adoro o sepulcro, o caixão e a poesia,
Havias de ver tristemente deveras
Com a erma lamúria e o terror da harmonia.
Berraste-me... Fui decomposto sem peito,
Visagens e odores, por isso que esperas!
Viscéreo, sofrido... Eis-me sujo no leito.
Lucas Munhoz
(04/02/2022)