ENSANGUENTADA
A salvação e a morte não podem olhar nos olhos uma da outra.
[Berthe Morizot]
Perdida em mim esta alma ensanguentada,
Em cada veia jorrando um destempero,
Que alçado pela mesma punhalada
Se dobra ante o algoz parvo e traiçoeiro.
De embustes e perfídias tão pesada
Expande no infinito o seu mau cheiro,
Cravado na perpétua e podre ossada,
Esvai-se em rasgos vãos de desespero...
Maldita! Presa ao estúpido fascínio,
Dos teus olhos perversos, sensuais,
Uns olhos mais gelados que alumínio,
Arautos de mil fórmulas fatais,
Carregam em si o horrível vaticínio
Dos meus insanos instantes finais.