TUDO AZUL
azul de luz de placa
minha cabeça de modigliani num passe-partout negro
emoldurada pela janelinha acanhada do quarto barato
de catre na parede oposta à parede com um quadro de porto grego.
azul de estrela distante
acendo outro naquele num ritual infinito de afogar tudo em fumaça
enquanto um homem mais velho do que eu e mais jovem que meu pai
despe-se tranquilamente expondo uma nudez tão abjeta quanto a minha no meio da praça
azul de neon de bar
me lembra de que não há nada para beber além da torneira
com gosto de zinabre
azul de relógio da china
azul de desinfetante floral
azul desbotado da porta em frente que nunca se abre