JOALHEIRO, CRONISTA, ELEITOR
JOALHEIRO 1 – 19 JAN 2021
Eu te porei na tiara a luz da lua
E a chama do sol em cada meigo olhar;
Vejo um colar de estrelas a brilhar
Quando o sorriso tua boca deixa nua,
Nessa amplitude em que amor estua,
Eco deixando nas brasas de meu lar;
Não brilha igual a chama a desmanchar
Minha substância que em carvão flutua.
Mas o anel que te darei, essa aliança,
Não será nem de ferro e nem de ouro,
Mas a órbita prateada de Saturno,
Que nem sentirá falta, pois descansa
Envolto em mil volutas, sem desdouro,
Enquanto amor é destino de um só turno.
JOALHEIRO 2
Essa tiara tua testa envolverá
Como a vincha de um poeta e seresteiro,
Gravando marca de compromisso derradeiro,
Que te afastar de mim não deixará.
E a luz do Sol, que te acompanhará,
Teu coração para mim hospitaleiro,
Mais cálido fará, em dom ligeiro
E voluntário a mim só buscará.
Não saberei se de uma estrela o brilho
Poderá trazer mais luz a teu olhar:
Talvez, enfim, seja tolice te afirmar,
Mas tuas pestanas demarcam esse trilho
Que se puder, percorrerei constante,
Até termine o porvir de meu instante.
JOALHEIRO 3
Será que, inverso a tanta pretensão,
Seja minha testa que me coroarás
E o pajador cansado aliviarás
Com irrequieta e límpida ilusão;
Sei bem que amor é coisa de emoção
E nada novo em meu verso encontrarás,
Mas em meus lábios de novo soprarás
Significado à desbotada sensação.
Contudo, que me iluda deixa agora,
Que te possa qualquer dote te ofertar,
Como disfarce de minha ineficiência,
Quando percebo que desde nosso outrora
Fui enriquecido tão só por teu olhar,
Promessas tolas dourando com paciência.
CRONISTA 1 – 20 JAN 2021
Narra Plutarco que dois futuros generais,
Pelópidas e Epaminondas, iniciaram sua amizade
No campo de batalha, nessa rivalidade
Nos costumes da Hélade habituais.
Quem estudou história, antes dos currículos atuais,
Ao menos sabe que os Tebanos, nessa idade
Hegemonia impuseram sobre a veleidade
De Esparta e Atenas e muitos povos mais.
Infelizmente, tais fratricidas guerras
Acabaram originando horrível peste,
Segundo dizem, por mil corpos insepultos
E do Peloponeso as férteis terras,
Em que a mortandade assim investe,
Nunca mais recobraram iguais vultos.
CRONISTA 2
Essa batalha nem é muito conhecida,
Quando as cidades da Arcádia se ligaram
E contra o domínio de Tebas se lançaram;
Por mais que os Tebanos combatessem na renhida
Disputa, foi a ala esquerda repelida,
Em que Pelópidas e Epaminondas se encontraram;
Viram a fuga dos demais, mas não recuaram,
“Travaram os escudos”, prosseguindo a lida.
Após ter recebido sete ferimentos,
Pelópidas caiu entre os tombados,
Epaminondas ainda seu corpo a proteger,
Sendo ferido duas vezes em tormentos,
Até que Agesípolis, com tropa de soldados
O viesse finalmente defender.
CRONISTA 3
Repelidos os ferozes Arcadianos,
Epaminondas descobriu que seu amigo
Estava vivo, apesar de tal perigo;
Mesmo ferido, em esforços quase insanos,
O carregou para a retaguarda, com os planos
De o curar ou de o levar para o jazigo;
Mas Pelópidas viveu e o inimigo
Foi repelido, graças a estes dois Tebanos.
Contudo Plutarco em sua obra se lamenta
Que no seu tempo, já no século segundo,
Estivesse toda a Grécia em decadência,
Todo o país nem sequer arregimenta
Três mil soldados de valor profundo,
Tão diminuída estava então a sua potência!
CRONISTA 4
Depois de tantas lutas fratricidas,
Foi a Hélade pela Macedônia conquistada,
Grande parte de suas tropas convocada
Por Alexandre, em suas conquistas compelidas.
Roma a seguir, suas legiões ainda incontidas,
Levou milhares para a Itália escravizados
E outros tantos para lá como emigrados,
Suas perspectivas na Grécia já perdidas.
E em suas guerras civis, esses Romanos
Foram batalhas travar em grego solo,
Outros milhares colonizaram a Ásia Menor
Onde hoje é a Turquia, e muitos Tebanos
Se fizeram mercenários, para lutar com dolo,
Deixando a Grécia em situação ainda pior.
CRONISTA 5
De fato, Lúculo e depois dele, Pompeu
Exploraram vorazmente a Grécia inteira
E depois a Ásia Menor, até a derradeira
Moeda de ouro, estátua ou caduceu;
Centenas de milhares como escravos se perdeu,
Bem disputados na venda, em cada feira,
Por serem instruídos, ou pela mão certeira
Em arte e artesanato, pelo conhecimento seu.
Durante séculos ficou a Hélade empobrecida,
Somente aos poucos é que se recuperou,
Com a construção da capital do Oriente,
Constantinopla, onde Byzantium fora erguida,
Que o Imperador com cuidado reequipou,
Mas só província foi essa Grécia renascente.
CRONISTA 6
Só imagino o que teria sucedido
Sem suas perpétuas, nocivas rivalidades,
Caso Atenas tivesse reunido essas cidades
Num grande reino de poder provido;
Teria Felipe, o Macedônio decidido,
Que forçou esses estados em igualdades,
Muito além de suas patrioticidades
De algum modo a Grécia submetido?
Talvez Alexandre não tivesse conquistado
Quase todo o mundo dele conhecido,
Até os confins da Sogdiana e Bactriana
E o Helenismo jamais fora implantado,
O Império Romano jamais sendo constituído,
Caso algum Grego obtivesse eterna fama!
ELEITOR 1 – 21 JAN 21
Se por acaso algum político me ler
Ou alguém que apóie muito um candidato,
Por plataforma recomendo um real fato
E não apenas aos adversários responder:
O que o Brasil precisa agora ter
É um programa de emprego de bom tato
Desses milhões que estão em desacato
E não apenas em esmolas dispender.
Por mais que o Congresso nisso insista,
Com intenções eleitoreiras descaradas,
A provocar inflacionárias consequências,
Já o Presidente Roosevelt abriu a pista,
Com o New Deal de mil obras realizadas,
A dignidade a promover em suas valências.
ELEITOR 2
Distribuição não resolve de dinheiro,
Deve haver um plano de compensação,
Estradas e hospitais em construção,
Escolas, hidrovias, aeroportos, bem certeiro,
Desenvolver portos de mar e derradeiro
Restaurar as ferrovias que aí estão;
Grande tolice foi abandoná-las então,
Rodovias gastam combustível mais ligeiro!
Eu temo, no entratanto, que tal plataforma
Não deixarão afinal se pôr em prática,
Por mais que seja a boa-vontade dos eleitos:
Nem o Congresso, nem o Supremo tal reforma
Permitirão se execute em forma fática,
Às iniciativas hão de botar defeitos!
ELEITOR 3
O que é preciso é mudar a mentalidade,
Coisa difícil de fazer-se no Brasil;
Não há políticos de cunho varonil,
Só buscam suas vantagens, sem piedade;
Se um partido tiver mais popularidade,
Os demais o combaterão de forma vil,
Para depois declarar, cem vezes mil,
Que suas promessas não cumprem em realidade.
Infelizmente, o povo é sempre escada,
Que se derruba com o pé após subir,
Que mais ninguém consiga ali ascender;
Contudo aqui minha sugestão está lançada:
Não sou político e a eles nada vou pedir,
Salvo que pensem, antes de se corromper!