Transitoriedade
Não te aflijas com a pétala que voa,
Também é ser, deixar de ser assim.
(4°. Motivo da Rosa, Cecília Meireles, Rio de Janeiro, 1901-1964)
Jamais te aflijas quando despetalo,
Apenas sou, se me desmancho assim...
Eu não serei eterna no jardim,
Altiva e perfumada sobre um talo.
Expresso muito mais, quando me calo,
E, se desbota a minha cor carmim,
Tudo transmuda, nada tem um fim,
Viver-morrer, resisto no intervalo.
Eu deixo versos onde quer que passe,
Um pouco, enfim, de mim, no desenlace
Das pétalas que, soltas, vão-se embora...
Versejo porque morro a cada instante,
Renasço em meus poemas, sigo adiante,
Enquanto, em meu entorno, tudo enflora.
Brasília, 21 de janeiro de 2.022.