APARÊNCIAS...
Desvendar o que vejo, já tentei demais
O que não vejo deixo ao cego desvendar
Meus olhos me enganam, tiram a minha paz
Que aos olhos que não veem, vai se revelar...
Melhor é cego ser do que ter mau olhar
Aos olhos de quem vê verdade não se faz
Pois, tudo é aparência, preconceitos há
Num véu espesso e duro que não se desfaz...
Num horizonte reto vejo a terra plana
Ainda que eu veja o sol, esfera insana
Que queima as retinas nos doando a vida...
E como uma pérola numa noite escura
A lua outra esfera delicada e pura
Será outra mentira à Terra iludida?...
Por isso já não olho com o olhar de sempre
E meu olhar antigo esqueço em quem me lembre
E calo a quem afirme ver a coisa certa...
Por isso que um dia num piscar de vista
A escuridão me deu um verso como pista
E assim eu me tornei um cego e sou poeta...
Escrevo sobre tudo em forma de aparência
E, sobretudo, dou a forma da alegria
Ou da tristeza, caso exija a existência
Não julgo mais à noite do que julgo ao dia...
Escrevo, sei, às vezes, sem a inocência
Com olhos bem abertos vejo em agonia...
Aí eu fecho os olhos, cego minha ciência
E num escuro escrevo à luz da poesia...
Autor: André Luiz Pinheiro
19/01/2022