VELHAS CICATRIZES
Cada amor que se vai precocemente,
Deixa uma cicatriz indelével,
Junto a um sofrimento inexorável,
Que vem de uma dor intermitente.
Lembro de que desde que me fiz gente,
Mente sana in corpore saudável,
Sentia uma paixão incontrolável,
Que nascia e morria num repente.
Ficava algum tempo infeliz.
Sarava, mas restava a cicatriz,
A me lembrar da triste experiência.
Hoje estou velho, mas lembro o que fiz,
Num momento de pura inconsequência,
Enquanto, por instantes fui feliz.
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O amigo Herculano de Alencar me enviou esta beleza de interação:
A CICATRIZ DA CICATRIZ
Há uma cicatriz na minha mente,
Por cima duma outra cicatriz
Que me salvou da morte, por um triz,
E que vive comigo no presente.
É uma cicatriz mui diferente,
De todas as cicatrizes usuais,
Pois, mesmo antiga, dói cada vez mais:
Uma dor lancinante, intermitente...
A primeira é tão velha e tão profunda,
Que parece o jazigo em que a segunda
Sepultou os meus traumas do passado.
A segunda, mais rasa, e mais recente
Não quer cicatrizar completamente,
Enquanto eu estiver apaixonado.
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Outro grande poeta também me honra com sua presença em nossa página. SOLANO BRUM
A CHAGA ABERTA
Dói, bem mais a cicatriz de amor
Como se ainda a chaga estivesse aberta!
Pela vida em fora, eu carrego a dor
De certo instante, d'uma hora incerta!
Estive, após, com o coração em alerta,
Em esquivanças até mesmo d'uma flor!
O nó, quando mais se puxa mais aperta,
E a visão do alto, pertence ao condor!
E eu por mais que olhasse nada via...
Ofuscado os olhos pela beleza intensa
Cai nas garras d'uma nova fantasia!
É o certo instante d'uma hora incerta
Ou, a visão dantesca da indiferença,
Mantenedora, até hoje, da chaga aberta!
Solano Brum