TRILHA DE SONETOS LII - SÁFICO PURO COM TRIO DE PALAVRAS: CORSO(S), AVENIDA(S) e FANTASIA(S)

*CARNAVAL DA VIDA*

As fantasias pessoais, apenas,

São, em verdade, a singular maneira

De desfilar nos carnavais de hienas

Numa festança universal, ligeira.

Pela crescente sucessão das cenas,

Sigo a avenida na existência inteira,

Eu, capitão de dimensões terrenas,

Guio o meu corso, em natural canseira!

As ilusórias alegrias não

Garantirão felicidade e, então,

O coração resumirá ferida...

Os paetês e as purpurinas são

Os adereços da maior missão

Nesse coreto que se chama vida!

Ricardo Camacho

*A MAGIA DO CARNAVAL*

Pela avenida, a multidão seguia,

cantarolando irreverente, enquanto

entre o sorriso singular e o pranto

outra alvorada divinal surgia.

Da fantasia picotada, ria

um pierrô ao perceber que o encanto

nunca retorna ao coração, portanto,

desacredita na ilusão vazia.

Chora o arlequim desiludido e apela

juras de amor à colombina bela

que menospreza o gigantesco esforço

do folião a garimpar a luz

ao recordar que o carnaval seduz

pelo cortejo magistral de um corso.

Adilson Costa

*CARÊNCIAS*

Num turbilhão de comoção intensa,

- ondas raivosas, maremoto interno -

sinto-me um corso abalroado e aderno

ébrio de dor, desilusão, descrença.

Falta-me o dom que descortine e vença

as intempéries num hostil inverno.

Falta-me o dom que prevaleça, terno,

sobre a rotina angustiante e tensa.

Quero despir as fantasias rotas,

quero beber a poesia em gotas

e embriagar-me com o doce mel.

Regurgitar nas avenidas, ruas,

debilidades e carências nuas

e merecer a redenção do céu!

Geisa Alves

*A COLOMBINA E O PIERRÔ*

Pela avenida o carnaval surgiu,

Com foliões apaziguando as dores;

A colombina, ao Arlequim sorriu,

E se exibiu, na fantasia em flores!

O pierrô, enciumado, viu,

Mas preferiu acobertar rumores!...

Enfeitiçado, prontamente, urgiu,

Que o sentimento refletisse em cores!

Célebre, o corso, prosseguiu na paz

Só alegria, desfilando assaz

Entre confetes, serpentinas, luz!...

Que os adereços, na união, insistam

e alegorias, fielmente, invistam

Feito o ornamento que melhor seduz!

Aila Brito

*MENESTREL APAIXONADO*

Fantasiado na avenida, em ais;

Vê tremular, em estupenda dança,

Belo estandarte que, jamais se cansa

– Sal do suor, na fantasia, o cais.

O menestrel, com a visão, alcança

Carrus navalis, lantejoula e mais

– Corso em matiz de colorir corais –

E a fronteá-lo, rodopia a trança

Da bailarina deslumbrante e fina,

Porta-bandeira a cintilar... menina,

Toda a atenção a dissolver-se nela.

Olha, ofuscado o carnaval, por ela;

Bela aquarela sequestrou-lhe o ser,

Para em paixões o coração sorver.

Eufrasio Filho

*A REVOLTA DE ATLAS*

Nessa esplanada de avenida extensa

há podridões e a se fartar, meu caro,

velhos abutres de costume raro;

novas hienas de alcateia imensa.

Nessa política de mundo avaro,

onde se creem que roubar compensa,

há multidões alimentando a crença

que fantasia um promotor de amparo…

Devo respeito aos flagelados dorsos,

que inda sustentam, apesar de pobres,

a oligarquia alicerçada e hermética.

Se é necessário que me alinhe aos corsos,

saio “à francesa” contrariando os “nobres”,

mas preservando probidade e a ética!

Edy Soares

*O CARNAVAL*

Em fantasia, viverei (confesso!)

pela avenida a desfilar, bailando.

É carnaval! O festival chegando…

Toda tristeza decretou recesso.

Pela folia, extravasei o excesso

desses estresses anuais pairando.

Pura energia, enfatizei cantando,

nesse festejo de vital acesso.

Corsos antigos renasceram vivos,

cheios de cores, festejando, altivos,

nesse festim encantador, bonito.

Vejo as mulatas a dançar o samba…

Penso que sou o maioral, o bamba:

carnavalesco entoador do grito!

Douglas Alfonso

*MELANCOLIA NO CARNAVAL*

Triste, recordo o carnaval passado,

em que perdi praticamente o dia,

ao te encontrar namoricando o amado,

que te beijou e me fitava... e ria!

Triste episódio, prossegui calado,

sem fantasia, na avenida fria...

Enfurecido, sufocando o brado,

sem o horizonte que por fim queria!

Vejo de longe um fabuloso corso,

sigo exaurido a persistir no esforço

de acompanhá-lo, imaginando o fim...

Tolo desgosto permanece em mim.

Triste, recordo o carnaval medonho,

que erradicou o amanhecer, o sonho....

Janete Sales Dany

*CORTEJO DE ILUSÕES…*

Segue o cortejo, em procissão bendita…

Serpenteando na avenida, encanta.

Os foliões, sem vestimenta santa,

cantam no coro que, empolgado, grita!

O carnaval, em compulsão que agita,

faz sombrear a maculada manta.

E ao camuflar o desprazer, replanta

as esperanças com confete e fita…

Pela avenida, desfilando o corso,

sob o pretexto de sonhar, eu torço

por um capricho do destino insano.

Que a fantasia, em expansão, perdure…

Ao disfarçar desilusões, que cure

a insensatez que desfigura o humano.

Elvira Drummond

*FRUSTRAÇÃO*

Anualmente, contagia a gente,

No carnaval, um panorama novo,

Nas Avenidas se aglomera o povo

Extravasando o destemor que sente.

As fantasias sairão na frente...

Para os brincantes aguardente provo,

Lança-perfume a promover renovo,

No folião, que tonifica a mente.

Vários cordões complementando o corso,

Pela Mangueira, confiante, torço,

Vejo, contudo, diluir-se o sonho...

O pesadelo repetiu-se e, agora?

A pandemia, cruelmente, adora

Ver alegria com perfil bisonho.

José Rodrigues Filho

*SAUDOSA FLAMA*

Ao relembrar os carnavais antigos,

Meu coração se fantasia em cores

Para encontrar os imortais amores,

Para abraçar os colossais amigos.

Éramos jovens sem quaisquer temores,

Com ilusão de inexistir perigos,

Em utopia, disfarçando umbigos,

Pela avenida, arremessando flores.

Ao relembrar o desfilar do corso,

Meu coração rapidamente inflama,

Logo começo a amolecer o dorso.

A bateria, no batuque, clama,

Que novamente reacenda, eu torço,

Uma saudosa e adormecida flama!

Luciano Dídimo

*BATALHA EM ALTO MAR*

E na tardinha singular, nublada,

Nós avistamos a cruel marinha...

Para atacar-nos frontalmente, vinha,

Ávido, o corso. Em ofensiva ousada,

Feito avenidas no oceano, cada

Surpreendente belonave em linha

Anunciava o morticínio... E tinha

Por definida a circunstância dada.

Em fantasias e ilusões da mente,

Caso tentássemos bater de frente

Sucumbiríamos no caos medonho.

Nossa esperança desabou por terra,

Mas na iminência da cruenta guerra

Eu acordei do apavorante sonho.

Gilliard Santos

*BEIJO NO INFINITO*

Numa avenida deslumbrante, as cores

esparramadas na amplidão rubente

reverenciam sedutor pingente

que se despede, a incandescer humores.

Busca o horizonte o coração, regente

de peripécias juvenis, louvores

escancarados no semblante e ardores

onde repousa a fantasia ingente.

A passarela que engalana o dorso

das cordilheiras e matiza o prado,

forja a alegria que o campônio anela.

Na vespertina cerimônia, o corso

leva o sorriso do clarão dourado,

beija o infinito, transformado em tela.

Jerson Brito