RÉU SEM CULPA
( Resposta ao poema VERSO BASTARDO,
do poeta fcunha lima)
Caro soneto, por que te lamentas?
Pago por erros que não cometi.
Como é sabido, eu não me escrevi,
Não tenho mãos nem outras ferramentas.
Sou como o eco, apenas repito
As frases que em mim alguém escreveu.
Se apenas repito o que me foi dito,
Por que sou réu de um erro não meu?
Quero ser desta prisão libertado,
Quero ser lido e então ser julgado
Se alguma culpa ainda me cabe.
Ninguém melhor para aqui ser jurado
Do que os amantes da poesia,
Testemunhas desta minha agonia.
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VERSO BASTARDO
Fiz um verso esdrúxulo, vago e triste.
Envergonhado pus lá na gaveta,
Mas não fiz isso como uma vendeta,
Pois apesar de tudo ele existe.
No meu penar o verso inda persiste,
Quando me lembro, faço uma careta,
Só de pensar que a coisa estava preta
Se o pé-quebrado assim insiste.
Era um verso tão feio em verdade,
Que não assumi a paternidade,
Assim ficando um ”verso bastardo”.
Não faça nem barulho ou retreta
E vá dormir no fundo da gaveta,
É o melhor lugar onde te guardo.
fcunha lima 17/12/21