Sonata VII
I
Vinde a mim, Musa, amiga dos poetas
E com louros pintai a minha testa...
Tenho a alma aberta a novos versos:
O pouco que me resta.
II
Porém até vós, venho implorar
Pelo destino a que a vida me impôs
Um só verso que faça desatar
O elo que ficou entre nós dois.
Não, ó Musa, não quero me afastar
De vós; eu tão só quero que depois
Do tilintar das taças ao jantar
Viajemos por luzes de arrebóis.
Se vós partirdes, as graças irão
E eu ficarei perdido como Arão
Aguardando pela morte no deserto.
Porém, tão logo fecho minha porta,
Outra esperança mais viva que morta,
Oh! Vem me receber de braço aberto.
III
A casa não é nobre, mas vos cabe
E vos darei repouso nesta noite...
Deixai que a chuva lá fora caia
E o vento num açoite.
IV
E vós chegastes, musa, em hora boa
Que ironia atroz traz nosso destino!
Agora há pouco estava em desatino...
E meia noite já! O sino ecoa...
Novo dia começa... que o sol roa
Que me fez toda a noite um ser menino...
Correndo sempre contra o vento fino,
Sempre atrás da mesma presa, à toa.
O sol nascer veremos da varanda
E a brisa traz o cheiro de lavanda
Das flores aromáticas do prado...
Os pássaros passeiam, outros cantam...
Ficai entre as belezas que encantam...
Até que fores nun cavalo alado.