UM ÚLTIMO SONETO
Se o mestre dos sonetos vem e diz
Não saber cumprir o regulamento,
Eu, que pouco mais sei que um jumento,
Vou rasgar os pobres versos que fiz.
Eu, que vivo a forçar o pensamento,
Que no quadro já gastei tanto giz,
De tantas vezes que fiz e refiz,
Já posso encerrar este tormento.
Não mais pé quebrado nem rima pobre.
Não tenho leitor, ninguém que me cobre
Uma modesta quadra ou um terceto.
Apenas, numa triste despedida,
Tomei esta atitude atrevida,
De escrever este último soneto.
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“Sonetos” entre aspas
Coloco os meus sonetos entre aspas,
Por não cumprir as regras do Soneto.
Mas algum dia desses vos prometo,
Que vou tirar dos ombros minhas caspas.
Vou sacudir o verso obsoleto,
Aquele que não segue com rigor,
A métrica, a rima, o primor ...
Até chegar ao último terceto.
Vou conjugar um verbo de ação,
No peito do sujeito da oração,
Sem macular a métrica. Contudo,
Se algum imortal de Academia
Quiser metrificar a poesia,
Pra não mandá-lo à merda, fico mudo.
Herculano Alencar