TRILHA DE SONETOS L - PANDEMIA

*PANDEMIA: INÍCIO E FIM*

Ainda imerso ao vírus, o planeta

Inteiro gira, vivo e resistente,

O Fim de alguns destinos, de veneta,

Aumentam do oriente ao ocidente!

Oh, sorte má, que em fúnebre carreta

Percorre pelo Tempo, no ar doente,

Jogando as almas na lagoa preta,

Bem longe da esperança, eternamente...

Alguns, nas aflições da consciência...

Outros, no estudo em nome da ciência...

Porém, a maioria destemida

Feito um garçom, no pântano das festas,

Perdendo, pela treva das florestas,

A própria essência que se chama Vida!

Ricardo Camacho

*DIÁRIO DA QUARENTENA*

Pela janela observo, solitário,

A calmaria (estranha, até) da rua.

Que o nosso mundo então se reconstrua

Em algo mais humano e solidário.

E permaneço olhando o meu cenário,

Deixando, pois, que cada ideia flua.

Enquanto avisto ao longe a linda lua,

Vou completando a estrofe no diário.

A feia e horripilante pandemia

Nos causa prejuízos tão gigantes

Mas rima, ainda assim, com poesia.

A força da esperança se mantém;

Nosso futuro não será como antes

E, para ser sincero... ainda bem!

Gilliard Santos

*A PANDEMIA E A DOR*

Imerso em dor intensa, o povo chora,

A nova peste avança sem piedade,

Não vê barreira e chega a qualquer hora,

Espalha a virulência e a mortandade.

Atinge a todos, pelo mundo afora,

Ataca qualquer sexo, cor e idade...

A roda viva, sente o peso, e agora -

"Ficar em casa"! E nossa liberdade?

Mudança radical, tempo sombrio,

Que encharca o peito humano, de um vazio

dorido, sem prazer, sem atenção...

Transforma o dia a dia em incertezas,

Deixa-nos órfãos, fracos... só tristezas

Em nossas vidas! - Haja coração!

Aila Brito

*UMA ESPERANÇA*

Caminha a humanidade em desventura,

na dor de inusitada pandemia.

O vírus malfadado, que perdura,

os lares e as famílias angustia.

As faces e os sorrisos desfigura

enquanto distribui melancolia.

Na falta dos abraços, na clausura,

reserva-nos a página vazia.

A peste faz-nos todos irmanados,

no rico ou pobre dói de modo igual;

expõe os nossos morbos nos telhados!

Mas, queira Deus, não seja tudo em vão,

que o pranto deste tempo imerso em mal

ensine-nos a amar o nosso irmão!

Geisa Alves

*A TEMPESTADE*

Densas trevas cobriram nossas vidas,

Enchendo-as de um silêncio que ensurdece.

As almas temerosas e perdidas

Na tempestade elevam sua prece.

As virtudes então adormecidas

Se mostram ao irmão que reconhece

Que as mãos, no mesmo barco, estão unidas

E a força da remada se engrandece.

Ponhamos no farol a confiança,

Na cruz também está nossa esperança.

Sozinhos não podemos nos salvar.

Precisamos seguir a mesma rota,

Cada um contribui com sua cota.

Um dia as águas hão de se acalmar!

Luciano Dídimo

*PANDEMIA — O PÃO DA AGONIA...*

Em meio à pandemia, que agonia!

A voz que porta o vírus, se violenta,

intensifica o caos… E aqui diria

que cresce a negra sombra que atormenta.

A máscara protege — a garantia

que barra, que ameniza e que afugenta

o vírus da terrível pandemia.

Com fé, nos livra e guarda da tormenta.

Mas gente que troveja e cospe bala,

além do vírus, traz o tom mordaz

que assusta, em dose dupla, que ameaça…

Goteja o vírus, grita a voz que abala.

A máscara emuralha a nossa paz —

consiste em antivírus e em mordaça!

Elvira Drummond

*ALVORECER*

Amanheceu, o céu está cinzento...

o adeus precoce assombra o mundo inteiro!

Porém sempre refulge a luz, o alento —

o sol renasce e acalma o nevoeiro.

Vamos vencer o tempo virulento,

o galo, ainda, canta no terreiro...

A morte não supera o nascimento,

em cada canto nasce um brasileiro!

O verso — a poesia que componho —

traz esperança e clama pela cura.

Em breve alcançaremos esse sonho...

A dor nos servirá de aprendizado

e o abraço aquecerá a noite escura.

A vida luzirá por todo lado...

Janete Sales Dany

*UM POVO FESTIVO*

Quando o vírus letal amedronta algum lar

Com a sua cruel insistência assassina,

A presença final é certeza vulgar

Que persiste fiel na razão que fulmina.

Vi um filho chorar sem seu pai respirar,

Vi um pai sucumbir ao notar sua sina

De seu filho enterrar sem sequer o velar

Num horrível porvir que na paz, não termina.

Esse vírus feroz, invasivo e que mata,

Revelou-se ao dizer que será destrutivo

Que trará tão atroz, todo horror que maltrata.

Não se cansa em prever, qual será progressivo,

Em mostrar mais veloz, a questão insensata,

De algum povo sofrer por ser louco e festivo...

Plácido Amaral

*TRAJETÓRIA DO MAL*

A peste virulenta se irradia

Ceifando vidas no país inteiro

Tornando insuportável qualquer dia,

Pois todos têm a cor do derradeiro.

A epidemia passa à pandemia,

E a quarentena torna-se o primeiro

Modelo, apropriado à serventia,

De contenção ao vírus carniceiro.

A pasmaceira traz a depressão;

O desajuste para a economia;

E as incertezas na vacinação...

Os destemidos zombam da utopia

Que só vacinas têm a solução

Para salvar o mundo em agonia.

José Rodrigues Filho.

*PÉRFIDO MONARCA*

A peste qual aríete na porta,

Forçosamente, invade e toma a aldeia.

Atinge–a cruelmente, e não se importa

O desvairado rei que delineia,

Que toda a enfermidade logo freia,

Navio da mentira à corte aporta,

Na boca, que o monarca não refreia

De toda a impiedade que comporta;

Fala desconhecer a tais flagelos,

Quebrando vorazmente vários elos;

Mentindo que as mazelas não matavam.

Desconsidera o que outros já falavam,

Que curandeiros fortes pesquisavam,

Ciências com estudos paralelos.

Eufrasio Filho