Areia que limpa

Envolve-me a fina areia rosto e olhos

Mas nada se turva, tudo em mim é claro

Revisto-me toda e desfaço os abrolhos

Colados neste corpo inerte não ignaro.

Arrasta-me lento um mar de escolhos

Que divido por mim retirando o amaro

Tão forte que lançado nos ferrolhos

Os dissolve no meu ventre de azaro.

Perco a areia de vista num momento

Afasta-se o mar para meu tormento

Entre eles ficando um abismo fundo.

Mas de novo me acode a voz do vento

Que num sopro forte para meu alento

Junta areia fina ao meu mar profundo.