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Carta

Estendo os braços para ti, amada,

Por muito tempo fui um corifeu

De mulheres. E o mundo só me deu

Uma imagem de coisa indesejada.

O que restou té aqui? O nada!

E logo este meu ser se arrependeu...

Ouve, amada, em um suspiro meu

Todo o gemido de u'a alma abandonada.

Mas meu coração hoje em dia pensa

E o teu; é certo, ele me procura

Para extrair de nós a dor intensa.

E para completar nossa ventura:

Vem a mim com tua razão imensa

Que eu agirei somente com ternura.

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Eu tento me iludir, mas não escrevo,

Há um medo rodando pelo ar;

Se esquece mais que nunca o verbo amar

Sob coisas que não digo, nem transcrevo.

Há em alguma lápide um relevo,

Uma inscrição: "Só à distância amar!",

Propondo brio, mas um amor sem par

Como nos passos rítmicos de um frevo.

E não há mais como escrever um verso:

Ruas desertas, bares... olhos meus

Perdidos, contemplando o universo...

Como a filosofia dos ateus,

Tudo nos fica ainda mais disperso

No arbítrio concedido por meu Deus.

Rogério Freitas
Enviado por Rogério Freitas em 26/11/2021
Código do texto: T7394299
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