FARRAPO
Eu via réplica da fome amanhecendo,
No osso exposto da metrópole encardida.
Roendo o resto da pessoa falecida,
enquanto persistia o que eu ia esquecendo.
Cego desvia a alma atrás do dia,
com as vergonhas queimando o rosto do sertão.
Flor do asfalto de farrapo e carvão,
mais estreita que a rapina que lhe comia.
Só lhes falta, aos que aqui não estão,
saber da miséria menos impressa nos muros,
urgente como o que devora qualquer criatura.
Mas é puramente divina a danação.
Se não lhe ferem os humanos apuros,
a cada qual cabe a existência mais dura.