Maquiagem
Sobrou de ti somente a maquiagem,
Que camufla os pecados de outrora,
E que pinta o teu viço de senhora
E os pudores febris de santa imagem.
O teu véu de moral, hoje embolora
Nalgum canto sombrio do armário.
O do falso pudor, pelo contrário,
Seca à luz candente da aurora.
Nada de ti sobrou do teu passado.
O vestígio do mal foi maquiado,
E quem olha pra ti vê, tão somente,
A santificação da falsidade
Que não sente vergonha nem saudade,
E só diz a verdade quando mente.