NARCISO

Vendo-se a dois, Narciso reverencia,

Em excedência, a auto contemplação,

Sem ponderar que, junto à reflexão,

Um segredo tumular s'escondia!

Tanto admirara a si, à luz do dia,

Que o filho do Deus-rio emudeceu

E a sua face serena desvaneceu

Em duo de beleza e autofilia!

Assim foi seu auto-amor distante

Que, de modo hostil e deselegante,

Cessou-lhe a saúde e a consciência.

Deprimido, à fonte d'água, morrera

Da fome suicida que lhe ocorrera

Mais grave do que a concupisciência