LARGAR A OSSOS

É de fazer pena largar a ossos

Um amigo destes que não ladra,

Pois é somente como se instala

A posteridade leiga do remorso.

Latindo-se fiéis tal qual é o cão

E ai de mim se não os oiço latir;

Feição cadavérica me faz surgir

Ao rosto figura de transgressão.

Viver é senão um cão às sobras

D'uma realidade que se desdobra

E interpõe-se à cavidade do mundo.

Restar largado somente não faz latir:

Cão que não ladra carece grunhir

Para que se o veja quão moribundo.