TRILHA XLVII - SONETOS REGIONALISTAS

*PAPO RETO*

Viver em pleno Rio de Janeiro

É, sobretudo, estar "na atividade",

Mandar o "papo reto", sem maldade,

Ficar "ligado", sempre, o dia inteiro!

A violência, na realidade,

Ocorre em todo instante, por dinheiro,

"Ceifando" até o velho pipoqueiro

Que, "de noitinha", passa, na humildade.

Desde o subúrbio até a zona sul

O carioca adora um "céu azul",

Principalmente em "dia de Mengão"!

E assim... no Rio se combate o mal

Tratando o semelhante "na moral",

Que o chamará de "Sangue-bom, mermão"!

Ricardo Camacho

*LINGUAJAR PIAUIÊS*

O nosso dialeto, aprenda agora;

"Entonce", vamos lá, preste atenção!

Se queres ir ali - "rumbora". E o não -

Se nega assim: "hum nam", eu tô é fora!

"Iscuita aí, mermã"; "umborimbora" -

se diz na despedida; a outra expressão,

Pede ao colega a sua distinção,

De ouvir o que ela fala, sem demora!

"Babado" é segredar fofoca forte,

Mancar, é "caxingar" (de sul a norte)

"Bebosta", aponta para a embriaguês;

"Frescar", é brincadeira com o amigo,

"Mermim" é semelhante, assim prossigo;

E "vixe", é nossa - em bom piauiês!...

Aila Brito

*MISTUREBA*

Aqui no sul do Rio de Janeiro

é tanta "mistureba" que me engano.

A coisa pode ser o "trem" mineiro,

ou mesmo o bom "bagulho" paulistano.

Tem "brother", tem o "parça" e tem o "mano".

Tênis? "Pisante" chique e bem "maneiro"...

"Night", "rolê", "balada", sem engano:

um só significado, e bem festeiro!

E tudo se resolve "em dois palitos",

bebemos juntos "brêjas" ou "geladas",

o papo flui sem vagos e sem gritos.

É só cuidar de não "perder a linha"

nem ser o "pela saco" das "paradas",

na diferença achar o que avizinha!

Geisa Alves

*SONETO NORDESTINO*

Quem quer versar na língua do Nordeste,

“se avexe” em sapecar palavreado…

Pois tem que ser um “cabra bom da peste”,

e não um “moleirão” “abestalhado”.

Se o caso é “assuntar”, que não impeste

o chão, com “mexerico” “arreliado”.

Ou “se abolete” aqui, de vez, e teste,

ou pode “se arredar”, excomungado!

Vem gente lá “de riba”, da “lonjura”

provar dos “alfenins” e “rapadura”,

“pro mode” crer que a fala “cearês”

brotou da língua doce de moleque

“inventador de prosa” e nenhum “breque”…

Pois foi desse “jeitim” que Deus nos fez!

Elvira Drummond

*NÃO É "CEGA"!*

Em Porto Velho, meu torrão querido,

o rio em movimento faz "banzeiro",

é "galeroso" um cara bandoleiro

e "leso" aquele bobo conhecido.

"Maceta" é grande, bem desenvolvido,

"carapanã", mosquito sorrateiro,

a festa nós chamamos de "piseiro"

que, se estiver "no doze", é divertido.

De "banho" o balneário tem o nome

e lá qualquer "brocado" mata a fome

com tambaqui assado, com pirão.

Visite a capital rondoniense,

resista ao logro ou "cega" e recompense,

se não ficar "moscando", o coração.

Jerson Brito

*MINHA LÍNGUA,FORTALEZA.*

“Achamos graça,” quando gargalhamos;

“Pegou o beco” – quem se foi de fato –

As "gaiatices" são, do humor, os ramos,

“Forró;” folguedo em fina estampa e trato.

Fotografia, chama-se “retrato;”

“Peia” é palavra, quando em briga, estamos

Pessoa “Descarada,” o sem recato,

Tem “rebolar no mato,” convenhamos,

Temos um dialeto singular,

Na terra luz – do sol, de praia e mar –

Do jangadeiro; ”cabra” verdadeiro.

Assim que desenhamos a beleza

Da língua, em nossa nobre fortaleza

De “Homi” e “muié” intensos por inteiro.

Eufrasio Filho

*NORDESTINÊS*

Eu vou compor em bom "nordestinês"

Num "bafafá" "de rosca" e "bexiguento",

O meu "bregueço" em rimas com glichês,

Sem ser "xexeiro"e sendo bem "peguento".

Fazer soneto em outros "ABCês",

Num "pelejar" de tinta com lamento,

Pra convencer as mentes de vocês,

Requer "pantim"e duro sofrimento.

Mas hoje "eu tô" demais "malamanhado"

E vou pegar "bigu" de todo lado

Com "buliçosos" vates brasileiros.

E com meus "tronchos" versos, digo: "oxênte!"

Nessa"fubenta" "zona" do repente,

Só fiz "fuxicos" "pebas"e "fuleiros!"

Plácido Amaral

*SAMPA*

São Paulo tem "balada" colorida...

Há sempre show no "Ibira" e tem "sarado".

Tem "mina" da "quebrada", tão "bandida",

que esquece a minha "banca", que pecado!

Vou na "padoca", e a turma está reunida

tomando "breja", ás vezes, dá "moiado"...

"Mano do céu", estragam toda vida,

pois brigam, é chocante, "tá ligado"?

"Meu", "pode crer", em Sampa tem lazer,

tem "trampo", nunca falta, vou dizer:

Sei que é "suave" andar durante o dia.

À noite, é "treta", "tipo": além de fria,

cuidado, tem assalto no "farol"!

"Da hora" é avançar na luz do sol...

Janete Sales Dany

*CEARENCÊS*

Aqui no Ceará é "invocado"

O linguajar cantado e bem rasteiro.

Todo cabra matuto é "beradeiro"

E aquele que tem pressa é "avexado".

Quem se mete a valente é "arrochado",

Se cria muito caso é “bunequeiro”,

Se o cara é brincalhão, ele é "fuleiro",

E se não "bate bem", "abirobado".

Quem gosta de mexer é "buliçoso"

E aquele que tem fome,“esgalamido”.

“Só o pitel” é algo bem gostoso.

Chamamos de "ariado" o distraído,

“Bichim” é tratamento carinhoso,

Cearencês é mesmo divertido!

Luciano Dídimo

*BAIANADA*

"Neguin" costuma achar que na Bahia,

Ninguém trabalha e a vida "tá de boa"

A dar "tapa", "adoidado" na Lagoa

Do Abaeté, "lombrado" na magia.

O som dos atabaques contagia!

"Mãínha" dá "carão" e a "raça" zoa.

Pitaco leva um "tranco" da patroa,

Depois de haver entrado numa fria.

"Meu rei" você "pãiou" os abadás?

"Pipoca róla pau" e confusão...

Ofereci efó aos orixás

Saindo do "perrengue" do "busão".

Dispenso a "paletada", enquanto dás

"Um traço" na "peguete", seu "serrão"!

José Rodrigues Filho

*O “TAMPA” DO NORDESTE*

O “tampa” do Nordeste disparado,

“febre do rato”, “massa” de primeira,

é Pernambuco sem qualquer “zueira”

mostrando a sua cara, o “disgramado”.

Sem “greia”, vou dizendo que esse estado

é “cão chupando manga”, sem “leseira”,

sem “queijo”, sem “pantim”, “fazendo a feira”

e não suporta “cabra abilolado”.

“Com a bexiga lixa”, eu logo sei

exibe as suas cores tão “cheguei”

e tornam obra prima o seu “borrão”.

Às vezes quando está com a “macaca”,

procura se livrar de toda “inhaca”

o mais amado estado da nação.

Adilson Costa