Aborto

Quem vê no prelúdio doídas quimeras

e o lábio proíbe dizer, não aceita,

sucumbe aos ruídos de duras esperas,

se esconde na mágoa que os olhos espreita.

O filho que o ventre sofrido rejeita,

mas rompe o desprezo e deságua entre feras,

perdoa e progride? Deprime e despeita?

– Revive a tragédia por múltiplas eras.

A morte eu não quero. Explico-me... calma!

Divino esse corpo, essa mente, essa alma...

eu não louvaria a meu Deus como morto.

Mas se eu nem nascesse? Mas se eu nem chorasse?

Quem é mais feliz? O que sofre, pois nasce,

ou quem foi poupado da dor pelo aborto?

Alex Olliveira
Enviado por Alex Olliveira em 21/10/2021
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