Aborto
Quem vê no prelúdio doídas quimeras
e o lábio proíbe dizer, não aceita,
sucumbe aos ruídos de duras esperas,
se esconde na mágoa que os olhos espreita.
O filho que o ventre sofrido rejeita,
mas rompe o desprezo e deságua entre feras,
perdoa e progride? Deprime e despeita?
– Revive a tragédia por múltiplas eras.
A morte eu não quero. Explico-me... calma!
Divino esse corpo, essa mente, essa alma...
eu não louvaria a meu Deus como morto.
Mas se eu nem nascesse? Mas se eu nem chorasse?
Quem é mais feliz? O que sofre, pois nasce,
ou quem foi poupado da dor pelo aborto?