TRILHA XLV - SONETOS OCTOSSÍLABOS - SAUDADE
*DIÁRIO DAS SAUDADES*
Meus dias, como frágeis flores,
Enfeitam com cadência viva
A vida que, em fração ativa,
Perpassa dando, às datas, cores!
Agora, eu provo os bons sabores
De tudo o que a memória aviva,
Também a luta em tons de oliva
Que me elevou além das dores!
Os meus instantes fugidios
Estão nos ventos e nos rios,
Nos fortes elos das idades...
E assim, eu lembro os tempos idos
Aqui nos versos reunidos,
No meu diário das saudades!
Ricardo Camacho
*CUIDA DE MIM*
Desejo ter você, amor,
Aqui do lado me aquecendo,
Meu coração está sofrendo;
Sinto saudades... e essa dor
Sangra meu peito com ardor,
Fraquejo, e aos poucos, vou morrendo...
Saudades tantas, corroendo,
Minha alegria, o meu frescor!
Volta meu bem, a casa é tua,
O amor é teu... Simples assim!
Dá-me outra vez, a luz da lua!...
Restaura o que há de belo, em mim;
O meu amor ao teu, pactua
Mais uma vez, cuida de mim!
Aila Brito
*AUSÊNCIAS*
Na solidão que insiste e grita
sorvo a tristura tão tenaz.
Como encontrar o elísio, a dita
se, no imo, a amarga ausência jaz?
Vivo a lavrar a plaga aflita,
tento colher a flor fugaz,
mas tua falta em mim suscita
tamanho agror que a luz desfaz...
No seco enovelar dos dias,
nas horas mudas e sombrias
persisto, na saudade imerso...
Eu tento, amor, mas não consigo
conter a dor e o desabrigo,
então componho um triste verso!
Geisa Alves
*TARDE DEMAIS...*
Eu vi nos olhos seus, meu bem;
tristonhos, por seus próprios ais,
a paz que eles tão sós, não têm,
enquanto eu passo bem demais.
Depois de tanto tempo e sem
saber se os tempos são iguais
ou se eu agora tenho alguém,
regressa... e eu já não quero mais!
Saudades eu senti, não nego,
mas eis que a um novo amor me apego
e aos poucos restam só lembranças...
ainda posso dar abrigo,
algum conselho, um ombro amigo,
mas não se apegue as esperanças!...
Edy Soares
*O TREM*
Talvez ainda irei ouvir
O apito alegre desse trem
Que dia a dia em seu sorrir,
Ao meu lazer prediz que vem.
Pretendo tê-lo esperto ao vir
Na minha mente sem desdém,
Lembrando sim, de bem sentir,
Saudades vivas de um alguém.
É lindo ter na tal saudade,
Lembrança altiva em meu passado,
Um terno espaço que nascer.
Não ver o trem será maldade
Que o tempo traz cruel ao lado,
De mim roubando o meu prazer.
Plácido Amaral
*SAUDADE…*
Saudade da boneca Bel,
do pé de jambo no terreiro,
do meu cãozinho tão fiel,
que me rondava o tempo inteiro…
Saudade de escutar Ravel,
timbrado com capim-de-cheiro,
inebriando o coquetel,
sorvido junto ao companheiro.
Saudade de embalar os filhos,
em compassados estribilhos,
embaixo do Giriquiti…
Saudade de viver o sonho,
varando o tempo que transponho —
saudade do que não vivi…
Elvira Drummond
*O SEU SILÊNCIO*
_Para Horácio Dídimo_
Saudade do meu pai poeta,
Daquele refinado humor,
Do gesto que exalava amor,
Do verso que lhe fez profeta.
Saudade do meu pai pastor,
Exemplo de uma fé concreta,
Agia com feição discreta
E sem querer jamais se expor.
Nas flores de qualquer jardim
O seu silêncio faz brilhar
A luz do Sol que não tem fim.
Recebo a paz no seu olhar,
O seu silêncio está em mim,
Gigante como o verde mar!
Luciano Dídimo
*SAUDADE*
Recordo meu passado vivo
Na mente palpitando ainda,
Sou dele, o sofredor cativo,
Pois vejo que ele nunca finda.
Não finda por real motivo!
É ele minha glória linda...
Se penso que o matei: o ativo!
Renasce fervoroso e brinda.
Eterno mesmo após a morte!
É essa minha triste sorte
Trancado em invisível grade.
O tempo passa tão ligeiro
E dele sou prisioneiro
Vivendo preso na saudade.
Douglas Alfonso
*DESEJOS NOSTÁLGICOS*
Esta saudade que me invade
arranca as flores do futuro,
apaga as luzes da cidade,
e arrasa todo chão seguro.
Esta saudade é majestade,
encerra tudo que emolduro...
É sorrateira, nunca evade,
vive esperando atrás do muro.
A nostalgia enlaça o dia —
estendo as mãos e peço ajuda,
porém a história nunca muda.
Desejo o beijo que inebria,
a mão que afaga o meu prazer,
o amor que faz adormecer...
Janete Sales Dany
*
REVIVER
Um sentimento renitente
Perdura, enquanto o tempo passa,
Lembranças boas; mente lassa,
Voltando à tona de repente.
Não fosse o que sobrou latente,
Dos anos bons e renda escassa
Por onde a mocidade grassa
De mim fazendo um ser contente...
Seriam sem prazer os dias
Nos quais vivi as fantasias
Da luta sã por igualdade.
É fato, as coisas não mudaram,
Parece até que retornaram
Nos devaneios da saudade.
José Rodrigues Filho
*MERENCÓRIA SAUDADE*
A nuvem que inebria e embarga
A mente; abala em sismo o peito.
O cheiro, o toque e o nosso leito
Traz a saudade assaz amarga.
A foto avulta o peso e a carga
Na cama, quando, à noite, deito
Em densa névoa que me aleito.
Admito: fui errante adarga!
Entranho–me na madrugada
E, no íntimo noturno, vago;
Buscando um vento teu, amada,
Que traga paz, um bom respiro
– Uma lembrança em que me afago –
Pensar em ti... o meu suspiro.
Eufrasio Filho
*DESPEDIDA*
O banco agora está vazio,
a praça nem existe mais,
o vento que soprava o cais
perdeu-se pelo casario.
Na proa insana de um navio
imune aos peçonhentos sais,
eu leio em letras garrafais:
O mundo inteiro desafio,
contrariando a humanidade
ao renegar qualquer saudade
que insista sempre em retornar
em meio a tantos impropérios,
na busca pelos cemitérios
do filho que morreu no mar.
Adilson Costa