Soneto I
Há tanta coisa que não cabe em meu ser
Que escorre nos olhos, escorre nos dedos...
E se não fossem meus muitos medos
Eu contaria tudo a quem pudesse crer.
Mas o inverso é mais fácil conceber!
Quê importa ao mundo meus segredos?
Minha dor é apenas mais um dos enredos
Que se recebe da vida logo ao nascer.
Deixem-me em paz com meus próprios sisos!
Que manterei sempre em dia os sorrisos
— Gesto mecânico aos meus semelhantes.
E se satisfaçam com o meu desalento
Pois nenhum de vós conhece o tormento
Que rasga meu peito em noites pujantes!