Escuto-te, Cigarra, o tempo inteiro,
porquanto sou, também, despreocupado!
Estou do meu trabalho aposentado,
zanzando, passo o dia, no terreiro.
Diverso do Olegário, conselheiro,
não vou te endereçar atroz recado,
(Que dar conselho está tão desusado...)
Nem mais se põe comida no celeiro...
Por isso, canta, canta, minha amiga!
Bem pouco vale ser que nem formiga,
de sol a sol, no mais cruel labor.
Porque, mais que do pão de cada dia,
o mundo está faminto de poesia,
que ajude a mitigar a humana dor.
Magnífica e honrosa interação do Grande Sonetista Humberto Cláudio:
O INSETO MENESTREL
Que conselho eu daria a essa cigarra,
Que passa o dia assim, cantarolando?
Que como os animais, não vive em bando,
Mas, solitária, a vida em versos narra?
Quem sabe o que a cigarra está cantando,
Com essa voz que alguns acham bizarra,
E outros confundem com a voz da farra...
Quem sabe, ela deve estar louvando!
Cigarra é um inseto menestrel
Que cumpre fielmente o seu papel
Alheia se aprovamos seu cantar,
Posto que presta contas ao Criador
Que pôs no seu biquinho um bom louvor
Para somente a Ele aqui adorar!