TRILHA XLIII- SONETOS EM HEPTASSÍLABOS

*LEVANDO A VIDA...*

Vou sacudindo a poeira,

zonzo, balanço e não caio...

Às vezes rei na liteira

e às vezes simples lacaio...

Cepa de nobre madeira,

alças de um velho balaio;

pau que sustenta a videira,

fraqueza atrás do desmaio.

Sou pedra que a água lapida,

água barrenta escorrida,

parte de tudo e do nada...

Cria do dono do mundo;

se, "raso, largo ou profundo"...

Tento cumprir a jornada!

Edy Soares

*FACULTAS AGENDI*

Os que se sentem amados,

Frequentemente aquecidos,

Com os sorrisos armados

Amam, também, incontidos!

Alegremente irmanados,

Vertem dos cinco sentidos

Luzes com tons prateados,

Versos jamais reprimidos!

Os corações de balaio

Vencem o tempo e o desmaio!

Vergam, não quebram e vão!

Tal como a santa videira

Que não sucumbe à poeira,

Vive quem ama na ação!

Ricardo Camacho

*DIAS E DIAS*

Há poeira e torvelinho,

nas estradas desta vida.

Alguns dias vestem linho

e outros tem a alma despida.

Às vezes num desalinho

faz-se triste despedida,

às vezes tem um bom vinho

de uma videira querida!

Assim sucedem os tempos

e entre tantos contratempos

não voga olhar de soslaio...

Mas, antes, ter no balaio,

entre as flores tão olentes,

a fé que adorna os valentes!

Geisa Alves

*UVA E CAFÉ*

Encontrei no meu caminho

Frutos de boa videira,

Extraí deles o vinho

Que bebi a vida inteira.

Descobri, também no pinho,

A viola de madeira

Que nunca deixou sozinho

O Bardo de "Bananeira".

Em meio a toda poeira

Usei balaio e peneira

Pra colher meu parreiral.

Nunca me senti frustrado

Por ter de fruto trocado,

Pois nasci num cafezal.

José Rodrigues Filho

*A LENDA*

Reza a lenda do Sertão

Que o grande rei do cangaço

O famoso Lampião

Não dava a torcer, o braço.

Numa rixa, a confusão

Gerava intriga e cansaço

Entre famílias; e o chão

de poeira, um grande espaço,

Vertia sangue e motim -

Videira alcançando o fim!

No balaio, a lamparina,

Roubos, armas... pé na estrada!

Virgulino em vil cilada,

Deceparam-no! Que sina!

Aila Brito

*O REPENTISTA*

O cantador nordestino

Dos versos faz a "videira,"

Com arte constrói seu hino

Plantando na terra inteira.

Com seu saber cristalino,

Disseca até a poeira

Só quem tem o dom, o tino,

Canta assim dessa maneira.

Os bons não fazem, ensaio,

Os ruins cantam "balaio,"

Isso nos traz confusão.

Quando canto busco encanto

Ao cantar meu doce canto,

Canto com inspiração.

Douglas Alfonso

*SAUDADES DA INFÂNCIA*

Eu brincava a tarde inteira

No sítio do Vô João,

No meio da plantação,

Sob as sombras da parreira.

Por vezes ficava à beira

Das águas do ribeirão;

Depois, de balaio à mão,

Colhia uvas da videira.

Juntamente com meus primos

Jogava bola, corria

E a poeira até subia...

Nossa infância nós curtimos

Com bastante intensidade...

- E hoje me bateu saudade!

Gilliard Santos

*MORTE DA VIDEIRA*

No balaio do meu sonho

Coloquei a fértil uva

De um tom verde tão risonho,

Que pintou a minha luva.

Da videira um som tristonho

Badalava pela chuva

Que tornava mais medonho

O meu luto de viúva.

Meu marido se esqueceu

De adubar nossa videira,

E ela então... ali morreu...

Com a gana da poeira

Que do chão resplandeceu,

Só restou a mãe solteira...

Plácido Amaral

*O BALAIO*

Pinga a chuva na videira —

mistura verde com prata.

Toca a dança corriqueira,

que minha memória acata…

E ainda que não se queira,

retorna a tal serenata…

Jamais se torna poeira,

se o passado me arrebata!

E executando o piano,

relendo o sacro e o profano,

o tempo ri, de soslaio…

Pois volto à mesma cantiga,

que a velha lembrança abriga —

de meu peito fez balaio!

Elvira Drummond

*O BALAIO DE DEUS*

Da poeira nós viemos.

Temos, pois, essa certeza:

De que ao pó retornaremos

Sem levar qualquer riqueza.

Nem por isso choraremos,

Não é razão de tristeza.

Da seiva nos fartaremos

Pela divina presteza.

Pois unidos à Videira,

Teremos em abundância

Vida plena, verdadeira.

Nosso tempo é como um raio.

Vejamos com importância

O que Deus tem no balaio!

Luciano Dídimo

EM BUSCA DA LUZ

No passado tem poeira,

que assombra o ciclo futuro...

É verdade sorrateira —

nunca encontro o que procuro!

E por mais que eu lute e queira,

escrevo versos no escuro.

Não há frutos na videira,

não há sorte atrás do muro!

O balaio está vazio,

a aurora nasce tristonha,

a vela sem o pavio...

Mas reina, nos olhos meus,

a vida que ainda sonha,

a infinita Luz de Deus!

Janete Sales Dany

*VIDA DE ANDARILHO*

Caminhante sem destino

nos meandros da cultura,

planto sonhos, dissemino

mundo afora mais doçura.

A missão de um peregrino

move o peito e me assegura

os presentes que imagino:

risos plenos de ternura.

No balaio ainda tenho

emoções, o ardor ferrenho

de enfrentar qualquer poeira.

Todo verso que partilho

nesta vida de andarilho

é rebento de videira.

Jerson Brito