A CARTA

A CARTA

A carta que escrevi n'esse caderno

Aqui deixei por anos, escondida.

-- Muita coisa difícil de ser lida… --

Enfim, só de encontrá-la me consterno.

Amor, seja infinito; seja eterno,

Não deixou senão dor em minha vida:

Ei-la aqui! Uma carta irrefletida,

Onde meu coração em desgoverno!…

Desolados, a forma e o conteúdo

Nas mal traçadas linhas d'uma escrita

De garranchos nervosos sobretudo.

Página que m'ecoou uma hora aflita…

Queda silente enfim no criado-mudo

E bem guardada d'olhos se acredita.

Betim - 23 02 2000