POR MAIS ESTRELAS... — Mihail Eminescu

Por mais estrelas que ardam nas alturas,

Por mais ondas que vaguem sobre o mar,

Dessa luz, de seus brilhos e lonjuras,

Ninguém sabe – nem nada há de ficar.

Tu podes, pois, seguir o teu caminho:

Sejas bom, ou de crimes instrumento –

É o mesmo pó, abismo e remoinho,

Tua herança de tudo – o Esquecimento!

Parece-me que morro: junto à porta

Esperam os que me querem enterrar;

Ouço cantos e vejo uma luz morta.

Ó sombra doce, vem mais perto, a dar

Sobre mim este adejo que transporta

Da Morte a asa negra, úmido olhar.

© Mihail Eminescu

Tradução: Luciano Maia

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Mihail Eminescu (Botoşani, 15 de janeiro de 1850 — Bucareste, 15 de junho de 1889) foi o mais importante e conhecido poeta da literatura romena. É o poeta nacional da Romênia e da República da Moldávia.

Seu nome de família era Eminovici, mas o escritor passou a se chamar Mihai Eminescu com o fim de romenizar seu nome, trocando o sufixo patronímico eslavo ici (ić) por um tipicamente romeno, escu.

Escreveu muito por essa época e graças a Iacob Negruzzi, publicou seus primeiros versos na revista Junimea. Foi por algum tempo ator, inspetor de escolas e bibliotecário em Iaşi, onde conheceu Veronica Micle, sua inspiradora, e seu grande amor.

Em 1872 foi para Berlim, onde seguiu os cursos de Dühring e Zeller, mas também desta vez não obteve o diploma de doutor em filosofia.

Em 1874 conseguiu em Iaşi um modesto emprego em um escritório. Mais tarde, em 1877, entrou para o jornal conservador Timpul, onde conseguiu exprimir suas ideias e desenvolver seu espírito de polemista.

Com perturbações mentais em 1883, foi curado em Viena. Voltou então para sua pátria e lá, com períodos de demência, acabou seus dias, vítima de uma síncope cardíaca.

Embora sua obra ainda não tenha sido totalmente publicada, grande parte dela foi traduzida para diversos idiomas. Eminescu exerceu influência decisiva sobre as posteriores promoções dos poetas da Romênia. Suas poesias filosóficas caracterizam-se por um profundo pessimismo, onde a influência de Schopenhauer é muito perceptível.

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Sobre o Tradutor:

Luciano Maia (Limoeiro do Norte-CE, 7 de janeiro de 1949) é advogado e escritor brasileiro. Formado na Universidade Federal do Ceará, em 1978, preferiu dedicar-se aos estudos linguísticos e à literatura, tendo publicado dezesseis livros (poesia, ensaio, conto). Mestre em Literatura pela UFC, em 1997, atualmente é professor do curso de Letras e de Comunicação Social da UNIFOR.

Traduziu vários dos principais poetas da Romênia, como Mihai Eminescu, Mihail Sadoveanu, Marin Sorescu e Emil Cioran, além de outras da Suíça, da Itália e da Córsega. O seu livro Jaguaribe - Memória das Águas, já na sexta edição brasileira, está traduzido para o romeno, o espanhol (Argentino) e o inglês (EUA).

Cônsul Honorário da Romênia em Fortaleza, nomeado conforme diploma expedido pelo Ministério das Relações Exteriores da Romênia, datado de 23 de junho de 1997. Em agosto de 2016, foi condecorado com a comenda da Ordem do Mérito Cultural, na categoria Literatura, em apreço aos esforços importantes na tradução e publicação de obras romenas no Brasil.

“A poesia de Mihai Eminescu está vazada daquele sentimento de mundo encontrado em praticamente todos os poetas românticos. Mas há, sobretudo, em sua escritura, uma ondulação entre colinas (visão bucólica-onírica de reintegração à natureza) e ondas (o mar como o grande sorvedouro), entre a vida efêmera e a eternidade, entre a finitude da condição humana e as consteladas distâncias cósmicas”.  — Luciano Maia