TRILHA XLI- HORÁCIO DÍDIMO

*** A PORTA ***

Na verdade é o amor que sobressai,

no amor é a verdade que domina,

o espírito é poesia que fascina

mas a letra é poema que se esvai.

Ninguém pode enxergar quem entra ou sai,

quem canta em alta voz ou em surdina,

o sopro é livre, nunca se confina,

a porta é larga e o vento vem e vai.

É claro que não há outra clareza

além do sol de Deus e da beleza

e do arco-íris que a aliança traz.

O certo é nunca ter outra certeza

além do pão e vinho sobre a mesa,

além da porta aberta para a paz.

Horácio Dídimo

*A PORTA*

A porta sempre aberta à minha frente

Convida-me para eu sair de mim,

Aguarda paciente por meu sim

E insiste no convite eternamente.

Na porta estreita pulsa o amor latente.

Eu vejo verdes pastos, não tem fim,

As rosas coloridas no jardim,

Vejo água rebentando da nascente.

Na minha imperfeição e na pobreza,

Contemplo o pão e o vinho sobre a mesa.

Constato que sou flecha e também alvo.

Ferido, descortina-me a grandeza.

De fato, só me resta uma certeza:

Quem passa pela porta será salvo!

Luciano Dídimo

*SALVAÇÃO*

Vejo uma senda iluminada à frente

com lâmpadas acesas no caminho,

estrelas a brilhar no azul marinho,

bordando o céu em prata resplendente.

Percebo o florescer de uma semente

a decorar jardim em que me aninho.

E reconheço: não estou sozinho,

percebo o amor tocar-me ardentemente.

Enquanto sinto o dom que revigora

e acende a luz em cada nova aurora,

entono um canto pleno de louvor.

E adentro pela senda vida afora,

bem certo de que tudo vai embora

e resta só a salvação do amor!

Geisa Alves

*PORTAIS*

Os olhos, mais do que janelas d'alma,

São os portais da realidade imensa,

Levando ao cérebro, que tudo pensa,

A cena e o sonho inspirador, com calma.

Ó lindo olhar em que a ternura acalma,

De simpatia e vibração intensa,

O eflúvio humano de uma porta extensa

Promove o júbilo que Deus espalma.

Neste processo encantador que alia

O sentimento de maior magia,

Seremos mais do que uma rocha morta.

Vencida a noite ao ver chegar o dia

Que apaga a antiga solidão vazia

De um coração com sua aberta porta.

Ricardo Camacho

*PORTA ABERTA*

A porta aberta é sempre um bom convite,

Para adentrar o amor resplandecente,

Contagiando a todos, simplesmente,

Com sua graça e luz! Pois acredite,

Nada é mais forte e belo; e nos permite

O aproximar do Cristo Deus Clemente,

Que nos confirma ser essa semente

A chave para o céu. Então medite:

Enleve o coração; jamais se entregue

Ao mau sentir, ao vício... e não se negue

vivenciar com zelo a boa ação;

Para alcançar a paz, o bem carregue

Dentro do peito, e todo o mal abnegue!...

- A prática do amor é salvação -

Aila Brito

*A TRAVESSIA…*

Havendo pedregulho, a travessia

instiga a sensatez que me acautela.

E a mente delineia, em própria tela,

perigo e solução, que esboça e cria…

Nublando o tempo, agrava-se a miopia.

E os olhos, tateando uma janela,

encontram luz, no umbral — o instinto apela…

E, por encanto, a estrada se abrevia!

Que o tempo cinza oculta um degradê;

poscênio, em todo palco, é chão privê;

e a cama é encoberta por lençol.

O mundo é bem maior do que se vê —

há ciclos, num eterno bambolê…

E, mesmo não se expondo, existe um sol!

Elvira Drummond

*CHAVES DO TORMENTO*

A mágoa que na vida me alucina,

Escura, e que sem sol pra lhe brilhar,

Parece ser a tranca do lugar

Que impede a luz tocar minha retina.

Pretendo destravar essa rotina

Tentando, com a chave do penar,

Abrir alguma porta e liberar

A paz que tanto falta em minha sina.

Que seja a porta estreita até demais

E tenha, na função de ser um cais,

Poderes de atracar meu sofrimento,

Presente em pesadelos matinais

Na forma de desejos bestiais,

Libertos pelas chaves do tormento.

Plácido Amaral

*AMOR AO PRÓXIMO*

Distinguem claramente os animais,

a fome, suas dores e a pobreza…

Dotados de egoísmo e de avareza,

divergem entre si, os racionais.

Como se fora a classe de imortais,

o acúmulo de lucros e a riqueza

os leva a nada mais do que à certeza

que o próprio homem cria os seus rivais.

Se rondam pela noite os andarilhos;

se falta o pão na mesa a tantos filhos

e aos abastados falta consciência,

a iniquidade forja os próprios trilhos,

prepara e fortalece os maltrapilhos,

envoltos pelo manto da indigência!

Edy Soares

*AMORES*

Não fosse o amor, um sentimento nobre,

Capaz de arder enquanto nos fascina

Com lágrimas, temor e dopamina,

Não aproximaria o rico e o pobre.

Se houver entrave, que a ternura dobre!

Pois, o maestro nunca desafina,

Regendo a orquestra segue a maestrina,

Porque do amor nem tudo se descobre.

Belíssimas paisagens, do planeta,

Trocadas pelo amor de uma ninfeta,

Revela do poeta a vil moral?

Duvido que este lapso comprometa,

Um passo, mesmo dado de veneta,

Define o amor, maior, por ser carnal.

José Rodrigues Filho

*CLAMORES*

Sozinha, na tristeza dos meus dias,

contemplo a porta aberta, a liberdade...

O peito dói, saudade que me invade

e inunda as madrugadas bem sombrias.

Lá fora, um mundo intenso de alegrias

impera um renascer que nunca evade.

Sou pássaro tristonho, enfrento a grade,

e não sei ocultar as mãos vazias...

À noite, quando deito em minha cama,

a realidade surge e se esparrama —

o incerto se aprofunda em minha mente!

Senhor, perdão, o amor ainda é chama,

dentro do coração e se derrama,

nos versos que componho eternamente...

Janete Sales Dany

*TODAS AS PORTAS*

Na forma de um luar onipotente

ornamentando a noite esplendorosa,

na lágrima sutil daquela rosa

roubada de maneira displicente.

No beijo da cascata transparente,

na pedra que repousa, preguiçosa,

na curva acentuada e sinuosa

que a borboleta segue indiferente.

No verso que alimenta a fantasia

do louco e do poeta todo dia,

em nome da saudade que transporta

os sonhos que nos fazem companhia

e a chave de um saber que mostraria

que existem tantas formas para a porta.

Adilson Costa

*GRÃOS DE AFETO*

A gentileza, quando genuína,

semeia poderosos grãos de afeto

e alumbra várias curvas do trajeto,

unindo as almas onde predomina.

Aquele que seus atos subordina

ao mandamento nobre do projeto,

firmado na visão do que é correto,

alcança alacridade cristalina.

Se um coração, bondoso e humanitário,

do semelhante acolhe o atroz fadário,

entrega refrigério e proteção.

A láurea do indivíduo solidário

aflora no portal de um relicário:

o olhar de quem transborda gratidão.

Jerson Brito

*O ADORNO*

A porta continua sempre aberta

A quem quiser entrar. Convido: vamos?

Num grande corre-corre nós estamos,

Um bom convite desses não desperta

Aquele burburinho, aquele alerta

Que, em outros tempos, tanto nós notamos,

Mas, hoje, muito apenas reclamamos.

É hora de buscar a forma certa.

Além da própria porta, pura e bela,

Ao lado, percebemos a janela

Escancarada ao vento e convidando

Ao menos para olhar o adorno dela,

Pois esse adorno, exposto, nos revela

Que o mundo por amor está chorando.

Douglas Alfonso