Ida ao submundo

No ambiente presente sobe a fumaça,

Mórbido tornando meu horizonte.

Um rosto aparece de mim defronte,

Lembrando-me o momento de desgraça:

Eis o barqueiro de nome Caronte,

Que assombra-me ao mesmo tempo que me abraça,

Que me leva à terra impura e devassa,

Pelas águas infortúnias do Aqueronte.

Sobe a fumaça do meu desespero

Trazendo ao barco todo meu exagero,

Os vícios e paixões materialistas.

Confesso-lhe a última descoberta:

"Não me foi dolorosa a morte certa,

Mas dessa vida sair como egoísta."

Anne Negreiros
Enviado por Anne Negreiros em 09/08/2021
Reeditado em 09/08/2021
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