EU ME ENGANEI - Jáder de Carvalho
Eu me enganei quando disse: “É o fim!”
Via-me no espelho: a neve no cabelo.
As rugas se cruzavam no meu rosto.
A vista se cansava. Ah, era o fim!
Dentro do peito, o coração batia.
Em contraste com o rosto, a alma era jovem.
Eu gostava do cheiro das mulheres:
ia do olfato às profundezas d’alma.
Pensei: “A vida não me chega ao termo.
Sou todo vida. Só por fora é a morte.”
E o mundo viu minha ressurreição.
Ah, quantas noites dormirei contigo!
Ah, quanto sol-nascente inda me espera!
A estrada é longa, mas não cansarei!…
© Jáder de Carvalho
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Jáder Moreira de Carvalho (Quixadá, 29 de dezembro de 1901 — Fortaleza, 7 de agosto de 1985) foi um jornalista, advogado, professor e escritor brasileiro.
Iniciou sua atuação em 1917, na cidade de Iguatu quando seu pai arrendou uma tipografia ociosa, pertencente a um farmacêutico chamado Arnoud. Nesta tipografia imprimiu um semanário de letras com escritos próprios além de sonetos de Olavo Bilac. Estudou com o pai, no Ateneu Quixadense, e no Liceu do Ceará, em Fortaleza, onde, anos mais tarde, foi professor, inspetor regional e catedrático. Aos 20 anos já era considerado uma dos maiores intelectuais da época. Em 1922, com apenas 21 anos, despontava como destaque entre os novos escritores da literatura cearense.
Como jornalista fundou o jornal socialista A Esquerda em 1928. No mesmo ano, em parceria com outros pioneiros do movimento modernista no Ceará, lança "O Canto Novo da Raça". Em 1929, passa a pertencer ao grupo modernista Maracajá . Em 1931 lança "Terra de Ninguém" e, a este, seguem-se vários outros livros de versos. No mesmo ano, sai graduado em direito da Faculdade de Direito do Ceará.
Pertenceu à Academia Cearense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 14, à Sociedade Brasileira de Sociologia e ao Instituto do Nordeste. Em 1974, com a morte de Cruz Filho, foi eleito Príncipe dos Poetas Cearenses, prêmio concedido o melhor dentre os poetas vivos do Estado.
Casou-se com a contista Margarida Sabóia de Carvalho com quem teve sete filhos.