OS QUATRO ELEMENTOS
TERRA
Usa-me, estou ao teu dispor.
Não reclamo, não revido
Ao golpe desferido.
Quanto mais profundos os cortes
Quando me feres,
Mais darei aquilo que tu queres:
Multiplicarei tuas sementes
Para que não sintas fome,
E água que te dessedente.
Gerarei a sombra para teu conforto,
Abrigo neste sol tão inclemente.
Finalmente, depois de morto,
Quando nada mais me pedes,
Te abraçarei, e te cobrirei
No teu último instante
Pra que ninguém venha a sentir
Teu odor repugnante.
A ÁGUA
Ah! Se olhássemos o exemplo da água
Em muito mudaria a nossa prepotência,
Ao encarar a vida com mais paciência,
Com muito menos dor e muito menos mágoa.
Desistimos quando nos barram o caminho,
Não realizando o sonho ambicionado.
Ela, somente tem o curso desviado
E segue em frente, seja rio ou ribeirinho.
É enorme o seu poder de acomodação,
Na dureza das pedras ou no chão,
Em qualquer lugar está sempre prazenteira.
Seja num tanque, bule, copo ou chaleira,
Seja grande ou pequena, profunda ou rasa,
Sempre está bem, se acomoda na nova casa.
FOGO
Ele é um monstro terrível, insaciável.
Onívoro, devora tudo que alcança,
Inútil tentar feri-lo com uma lança,
Que ele a devore é o mais provável.
Em sua fúria, quanto mais come mais cresce,
Como uma peste, nada fica aonde passa,
Tudo some, como uma nuvem de fumaça,
Só depois de saciado ele adormece.
Vez por outra tem seus momentos de aventura,
Quando voa livremente pelas alturas,
Acomodado nas narinas de um dragão.
Mas apesar de seu temperamento quente,
Quando domado ele é tão inocente,
Aprisionado nas bocas de um fogão.
O AR
Exuperry escreveu certa vez
Que o essencial não se pode ver.
Lembrei do ar, que nos permite viver,
Neste universo que tem suas leis.
Invisível em sua fluidez
Incolor, não se deixa perceber,
Apenas existe em graça e poder,
Reinando sobre nossa pequenez.
Mas a nossa ignorância cruel,
Impede que agradeçamos ao céu
Por tão grandiosa benevolência.
Em vez disso, poluímos o ar,
Ignorando toda advertência,
Já cientes de como vai findar.