O REFLEXO
Uma aparência estranha dilacera
os olhos do senhor que, consumido,
relembra seu brinquedo preferido,
agora apenas vulto de quimera.
A tempestade infinda, qual megera,
abriu no cenho vincos e, regido
pela saudade, um homem desvalido
encara sua imagem mais sincera.
Envolto pelo açoite que o condena,
procura dentro dele a velha cena,
a molecada, a rua de cascalho...
O espelho, indiferente ao seu desgosto,
o sonhador enfrenta e pinta o rosto
do menininho, um tanto até grisalho.
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Trabalho classificado no Concurso Literário Prêmio "Helena Prates". Tema: Memórias.