TRILHA XXXIX- CLÁUDIO MANOEL DA COSTA
*** SONETO LXXX ***
Quando cheios de gosto, e de alegria
Estes campos diviso florescentes,
Então me vêm as lágrimas ardentes
Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.
Aquele mesmo objeto, que desvia
Do humano peito as mágoas inclementes,
Esse mesmo em imagens diferentes
Toda a minha tristeza desafia.
Se das flores a bela contextura
Esmalta o campo na melhor fragrância,
Para dar uma idéia da ventura;
Como, ó Céus, para os ver terei constância,
Se cada flor me lembra a formosura
Da bela causadora de minha ânsia?
Cláudio Manuel da Costa
* SONETO I *
Nas águas da lembrança, a calmaria
É como o Nilo eterno e intermitente,
Que passa e se reitera na corrente
Monótona de doce nostalgia...
Agora, os versos brotam, por mania,
Com pétalas de imagens, calmamente,
A cor bucólica no consciente
Traz o equilíbrio da melancolia...
Criando e recriando a vã tristura,
O peito com gigantes alternâncias,
Inventa e reinventa a desventura...
No ergástulo das próprias culminâncias,
O sonho que figura se depura
Nas ânsias pessoais das inconstâncias!
Ricardo Camacho
* SEM FLORES *
A lembrança que tenho acalorada
Lá nos campos, invade-me a retina...
E uma dor sem questão, se descortina,
Paulatina, cruel e desalmada.
Uma imagem das flores na ramada
Traz antigo perfume que alucina,
Faz-me ver um sorriso de menina
Ressurgindo na dama apaixonada.
E eu quem sou para tê-la nos meus braços
Se não tenho mais alma pras fragrâncias,
Nem ao menos meus sonhos tem seus traços?
Hoje estou peregrino das distâncias
No crepúsculo triste dos palhaços,
Sem ter flores nas minhas discordâncias.
Plácido Amaral
* OPACIDADE *
A imagem da sidérea bordadura,
que tanto meu juízo embevecia,
agora testemunha a travessia
do olhar perdido nesta desventura.
A festa dos luzeiros me tortura
porque conduz retalhos da magia
levada pelo tempo e me agonia
notar desvanecida a vestidura.
Do traje noturnal desponta o lume
bastante para toda reverência
se eu não tivesse a sombra do queixume.
Enfrento, assim, severa penitência
imposta ao coração, que se resume
a revirar o céu na tua ausência...
Jerson Brito
* FLOR LILÁS *
Olho no campo, ao longe, a flor lilás
enquanto desvanece a luz do dia,
e a tarde faz-se pálida, tão fria,
tingindo em desventura a minha paz.
O vento vespertino e contumaz
traz à lembrança a dor que me angustia.
Com a alma triste, em grande desvalia,
percebo que se foi a flor fugaz.
Tristeza que traduz o meu deserto
persiste com espírito tristonho,
invade-me com força, tão de perto.
E eu fico a desejar o antigo sonho,
procuro pelo campo descoberto
o amor que vive em verso que componho!
Geisa Alves
* A MARGARIDA *
Olhando a margarida na janela —
florzinha delicada e pequenina,
achega-se o passado e descortina
a cena, em dimensão zen, paralela…
E aquela, que a memória insiste e vela,
desfila e exibe a nossa alegre sina.
Pincela a história, em tom que me alucina,
expondo riso e afago, em passarela…
A doce margarida — luz do campo —
clareia-me o passado em terna trilha.
E olhando a flor-umbral, assisto e acampo…
Tamanho sentimento em mim fervilha,
que alvejo minha história e, aqui, estampo:
não vejo a margarida, vejo a filha!
Elvira Drummond
* DESENCONTRO *
Hoje, senti o aroma do perfume
De alguém fundamental, de dois passados!
Eu recordei detalhes sepultados;
Nos corações, porém, um só queixume.
A queixa?! Simplesmente, o forte lume
Do eterno amor aceso em vis pecados,
Pois somos, hoje em dia, os dois, casados,
Sofrendo tal distância, e a dor resume.
O aroma o qual senti provém das flores
Que jorram ao nascer das primaveras...
Por isso que sentimos tais temores.
Pois foram para nós fatais quimeras:
Dois jovens, entre os sonhos multicores,
No enlace de um amor além das eras.
Douglas Alfonso
* PAIXÕES REMOÍDAS *
A natureza, em festa, expõe segredos,
Desabrochando flores em fecundas
Campinas que se estendem por jucundas
Planícies, bem maiores que meus medos.
Lembranças de frondosos arvoredos
Em cujas sombras fiz a ti profundas
Promessas amorosas, infecundas,
Porque confrontos via como ledos.
Se agora experimento esta amargura
Revendo tão saudosos matagais
Que já me deram sonhos e doçura.
Entendo e sei que não voltarei mais,
Gozar de tua excelsa formosura
Conúbios e volúpias sem iguais.
José Rodrigues Filho
* AUSÊNCIA *
A chuva desce, logo que amanhece,
e brinca sobre o campo bem florido
(desconsidera a dor do meu gemido).
A natureza segue... não falece.
A mágoa cresce, o espírito estremece...
Procuro, na existência, algum sentido.
Cadê o amor, aquele colorido?
Quem dera alguém ouvisse a minha prece!
Almejo a florescência do passado
a perfumar a vida, o novo dia.
Há de surgir o sol, neste elevado.
Simulo que alcancei o que queria,
porém o espelho mostra um ser cansado.
Só peço a Deus um pouco de alegria!
Janete Sales Dany
* A FLOR DA MINHA VIDA *
Caminho pelos campos... e a saudade
Invade-me (revivo a nossa história)!
Relembro, passo a passo, a trajetória,
As juras para toda a eternidade,
Do nosso amor, da nossa alma metade!...
Porém, é chama acesa na memória,
O sonho que almejei!... E, em rogatória,
Recorro aos céus, suplico à divindade:
Que se amenize a dor que existe em mim!
- Absorto, colho a rosa preferida,
Estendo a mão e entrego a ti!... Por fim,
Renovo o meu querer, de paz munida,
E o renascer do amor no meu jardim
Por seres tu a flor da minha vida!
Aila Brito
* AS ROSAS *
As rosas em botão, quanta beleza,
Que desabrocham cheias de esplendor,
Enfeitam nosso peito em cada andor,
Fazendo esmorecer nossa rudeza.
Porém as mesmas rosas, na fraqueza,
Rapidamente perdem o vigor
E furam com espinho de amargor,
Enchendo o nosso peito de tristeza.
Nós somos como as rosas do jardim:
Às vezes somos rosas ressequidas,
Mostramos o que temos de ruim.
Às vezes somos rosas coloridas,
Cumprimos a missão com nosso sim,
Salvando no perfume tantas vidas!
Luciano Dídimo