Faxina
Os urubus estão sobre a carniça
Disputando com a súcia canina.
Ali se exerce bem logro e rapina;
Ali medra a doutrina da injustiça.
Nas trevas tudo sujo se combina:
Direita e esquerda – filhas da cobiça,
Lados opostos. Nada é mais postiça
Do que das tais a pútrida doutrina.
O mecanismo nessas mãos enguiça;
Necessita-se de urgente faxina
Para expurgar o vírus que enfeitiça,
E depurá-lo no caos da latrina.
O que escapou de uma justiça omissa
Que não escape da do alto, a divina.
Maravilha de interação, com o mestre Jacó Filho:
Pra lei divina imutável,
Ninguém tem foro acima,
E qualquer dom de rapina,
É sob ela, imputável...
Magistral interação, poeta Fernando Cunha:
A ARVORE DA MISÉRIA
Corre chegou com o lixo o caminhão!
É num rebalde de qualquer cidade,
Difícil de se crer, mas é verdade.
A busca cruel por alimentação.
O cheiro nauseabundo fede a cão.
Seres sem cor, sem vida sem vontade.
Engalfinham-se, têm a mesma idade.
Pois a fome tem a mesma sensação.
Latas e plásticos descoloridos.
Trapos são as calças são os vestidos.
Cobrindo corpos sujos sem igual.
Nos galhos secos, negros urubus.
Como presentes dos meninos azuis.
Única e triste Arvore de Natal
Fernando Cunha
Juazeiro, 18 de julho de 2021