A INVEJA MATA
Lendo aquele soneto tão perfeito,
Falando de uvas e de raposa,
Invejoso, não via outra coisa.
Escrever queria, do mesmo jeito.
Ele faz, eu também tenho direito!
Gastou papel, escreveu numa lousa.
Olhando a cesta onde o papel repousa,
Solta um suspiro e desabafa o peito.
- Eu vou conseguir, outro dia eu faço,
Não é agora que vou dar o braço,
Para qualquer poetinha chinfrim.
Levanta e sai reclamando da sorte.
E fala, como quem jura de morte:
Vou mostrar que ninguém zomba de mim!
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A Raposa e a uva
Pulava a raposa, embevecida,
sob as sombras dos cachos da videira.
A noite já passava, quase inteira,
e nem uma só uva consumida.
A uva insinuante, oferecida...
impávida realça a beleza.
Quanto mais a raposa a deseja,
com mais beleza ainda é percebida.
E passa a noite, mas não cai a uva.
Nem mesmo com o vento ou com chuva
sequer um doce bago vai ao chão.
E queda-se a raposa, indiferente...
como quem mostra para o sol nascente
toda a certeza que terá seu grão.
Herculano Alencar