A INVEJA MATA

Lendo aquele soneto tão perfeito,

Falando de uvas e de raposa,

Invejoso, não via outra coisa.

Escrever queria, do mesmo jeito.

Ele faz, eu também tenho direito!

Gastou papel, escreveu numa lousa.

Olhando a cesta onde o papel repousa,

Solta um suspiro e desabafa o peito.

- Eu vou conseguir, outro dia eu faço,

Não é agora que vou dar o braço,

Para qualquer poetinha chinfrim.

Levanta e sai reclamando da sorte.

E fala, como quem jura de morte:

Vou mostrar que ninguém zomba de mim!

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A Raposa e a uva

Pulava a raposa, embevecida,

sob as sombras dos cachos da videira.

A noite já passava, quase inteira,

e nem uma só uva consumida.

A uva insinuante, oferecida...

impávida realça a beleza.

Quanto mais a raposa a deseja,

com mais beleza ainda é percebida.

E passa a noite, mas não cai a uva.

Nem mesmo com o vento ou com chuva

sequer um doce bago vai ao chão.

E queda-se a raposa, indiferente...

como quem mostra para o sol nascente

toda a certeza que terá seu grão.

Herculano Alencar

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 14/07/2021
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